Enquanto Tales of já é reconhecido no mundo todo, a série Ys, que é mais antiga – seu primeiro jogo foi lançado em dezembro de 1989 -, ainda não tem todo o reconhecimento que merece. Cada jogo da franquia nos conta um ano da vida de seu protagonista, Adol, o Vermelho, enquanto ele se aventura pelo continente – Ys IX Monstrum Nox é a nona entrada da jornada do nosso herói e, para este que vos escreve, é a epítome da franquia.
O Mundo e as aventuras em Ys
Ys é o nome do mundo onde se passa a aventura. Os nomes e locais presentes no game são baseados na vida real, por exemplo, temos o império Romun, claramente o Império Romano, um continente chamado Afroca, a nossa África, uma região chamada Britai, baseado no Reino Unido, entre muitos outros. Alguns eventos que aconteceram em nossa história também possuem contrapartes no game, como a Guerra dos Cem Anos, travada entre a Inglaterra e a França entre 1337 e 1453. Resumindo, muitos dos locais e lendas presentes no jogo são baseados na vida real, mas sempre com um toque especial visto nos RPGs japoneses. Então, além de nos concentrar em desvendar o que está acontecendo no local onde se passa a aventura, temos diversos pontos belíssimos para nos deliciar. Em Monstrum Nox, nós estamos na cidade de Balduq, que no passado era uma fortaleza que fora utilizada durante a Guerra. Com o passar dos anos, e do domínio de Romun, o local se transformou em uma gigantesca prisão recheada de segredos para serem desvendados. O local recentemente passou a ser controlado não só por Romun, mas também pelos Cavaleiros Hieroglyph, que estão fazendo algo em uma das áreas da prisão. Há um total de 21 áreas no jogo para serem descobertas. Muitas são belíssimas e mostram as características da região de Gllia, análoga à Gália, uma região francesa. Além disso, há toda uma mitologia com deuses e seus servos. Por fim, os Cavaleiros Hieroglyph fazem parte da Igreja, análoga à Igreja Católica.
Adol, o Vermelho
Como já dito anteriormente, tudo em Ys gira em torno de Adol Christin, que, como ele mesmo diz, é um aventureiro profissional. Ele devota sua vida a viajar de região em região, desvendar segredos e conhecer novos lugares. Suas ações quase sempre modificam para sempre o local onde está, como vemos em Monstrum Nox. Cada um dos jogos que compõem a franquia, exceto o Origins, nos apresentam um ano da vida de Adol e como sua aventura mudou para sempre o fluxo do mundo. Por exemplo, no jogo anterior, Ys VIII, ele teve contato direto com os Primordiais, criaturas lendárias que foram extintas, o equivalente dos nossos dinossauros. Tal qual no nosso mundo, os Primordiais são estudados, e seus fósseis são fonte de interesse e fascínio. Laxia, uma das pessoas que estavam com Adol na Ilha de Seiren, local do oitavo jogo, é uma estudiosa desse campo. Ou seja, tudo o que ela presenciou na ilha alterou para sempre a forma como os estudos são conduzidos. Outro exemplo é a aventura vista no sexto título da franquia, Ys VI: The Ark of Napishtim, onde Adol descobre uma antiga civilização que possuía uma máquina que podia controlar o clima. Resumindo, por onde nosso aventureiro passa, ele deixa um rastro caótico que muitos podem entender como algo ruim. Durante o começo do game, isso é revisitado durante um interrogatório, o que particularmente achei hilário. Além disso, eles brincam com o fato de Adol SEMPRE encontrar armas lendárias ou especiais e perder pelo caminho, o que justifica ele começar sempre no nível um no game seguinte. Adol é para o mundo de Ys quase como a engrenagem principal, tudo se move por conta dele, e quando ele faz algo, tudo se movimenta.
Muito além dos Monstrum Nox
O jogo começa com Adol fugindo da prisão e lutando contra algumas criaturas. Após chegar no que parece ser um ponto sem saída, nosso herói é recebido por uma mulher que usa um capuz. Ela possui uma arma em sua mão, e atira na direção de Adol, que, após sofrer um pouco, se transforma em uma criatura poderosa, um Monstrum. Então, ele segue o seu caminho para fora da prisão. A cena muda. 10 dias antes, uma bela cena aparece: Adol está com 24 anos e acompanhado de seu fiel amigo Dogi, quando finalmente chegam à cidade de Balduq, no reino de Gllia. Ali, eles descobrem que o local é, na verdade, uma grande cidade com uma gigantesca prisão. Ao conversar com os responsáveis pelo portão, Adol é informado que ele está sendo procurado pelo governo do Império de Romun e é preso. Após ter a sua devassada pela interrogadora, e ter suas aventuras anteriores sob suspeita, Adol é encaminhado para sua cela. Lá ele fica amigo de um detento que está em outra cela. Depois de algum tempo, o homem mostra como escapar da prisão e indica um caminho. Os acontecimentos descritos anteriormente finalmente acontecem. Adol se encontra com Dogi e eles decidem o que fazer a seguir: descobrir quem era aquela mulher, o que ela fez com o Vermelho e os motivos que o prendem naquela cidade. No decorrer da jornada, descobrimos que a moça se chama Aprillis responsável por transformar nosso herói em um Monstrum, e agora ele é obrigado a ajudar os outros cinco guerreiros quando houver o chamado. A missão dos seis é basicamente conter o Grimwald Nox, uma espécie de dimensão paralela infestada de monstros chamados de Lemures. Com o tempo, descobrimos que os Nox já vem acontecendo há 500 anos e Adol precisa descobrir maneiras de como quebrar a maldição e finalmente poder deixar Balduq. Muitas reviravoltas acontecem e descobrimos coisas sobre a verdadeira protagonista do game: a cidade de Balduq e sua prisão. A história da cidade e seus acontecimentos são fascinantes e a cada novo detalhe que descobrimos, ficamos cada vez mais fascinados. Há uma quantidade exorbitante de história para ser desvendada, por isso, fazer as missões extras e conversas com os personagens é extremamente importante. Estou sendo vago de propósito para instigar a sua curiosidade. Além disso, todos os outros membros que ajudam Adol nos Nox possuem histórias profundas, o que deixa a jornada ainda melhor. Digo isso, pois nosso protagonista é um herói mudo, ou seja, ele só possui falas quando precisa fazer alguma escolha, deixando a trama girar entre a cidade e os personagens que são relevantes naquele momento. Para complementar, podemos comprar alguns presentes e entregar para os membros da equipe. Isso faz com que novos pontos da história pessoal de cada um dos personagens nos seja apresentado, trazendo uma maior profundidade para todos eles. Some a isso as diversas missões extras, que nos apresentam outros fatos e novidades.
Entre espadas e magias
Um dos pontos mais altos do game é seu excelente combate. Ys desde sempre foi muito dinâmico, com poderes e golpes capazes de encher os olhos. Isso acontece também em Ys IX. Cada um dos seis personagens jogáveis possui características e golpes especiais. Adol usa uma espada longa, White Cat usa uma manopla, ou seja, saí distribuindo socos nos adversários. Hawk usa duas espadas pequenas, Bull usa um martelo gigante, Doll usa uma arma que é uma mistura de espada e chicote, e, por fim, Renegade usa um cajado e poderosas magias. Cada um deles possui um gameplay único, e gostar desse ou daquele depende de quem está no controle. Particularmente eu gostei muito de jogar com Adol, White Cat e Renegade – acredito que esse trio tem o equilíbrio perfeito, mas qual configuração usar vai do seu gosto pessoal. Além das armas, o que os deixa únicos são os acessórios equipados. Alguns podem aumentar e muito a força ou a defesa, ou então focar em outros atributos, como esquiva, aumento de pontos de vida ou o que você encontrar. Como customização, podemos comprar, com dinheiro real, diversas roupas para os personagens. Isso não altera absolutamente nada no gameplay, e durante a campanha ganhamos alguns itens, mas confesso que nunca usei nenhum. Se o combate é bom, o mesmo não pode ser dito da câmera. Desde a demo lançada no começo do ano, esse é o pior ponto do game. Pela primeira vez, desde que jogo videogame, eu tive que inverter o comando da câmera e alterar a velocidade de movimento, de tão ruim que é. Usar o sistema de auto-mira é absolutamente horrendo por conta disso, mas sem usá-lo, dá até para relevar o quão ruim é.
Som na caixa, meu bardo
Desde a criação da Nihon Falcom, desenvolvedora do game, a trilha sonora de todos os títulos feitos por ela é de altíssima qualidade. Eles conseguem misturar elementos de música clássica com o heavy metal e criar a melhor combinação possível. Isso faz com que as canções sejam marcantes e se tornem agradáveis de se ouvir. Outro ponto a ser elogiado são os gráficos. Ys sempre teve a fama de colocar como chefões grandes monstros, e isso continua aqui. Como o jogo veio no final da geração passada e começo da atual, eles extraíram ao máximo a ferramenta de criação de jogos. Gostaria de deixar registrado aqui uma das minhas maiores críticas à Ys IX Monstrum Nox: ele é fácil demais. Como eu já joguei outros títulos da franquia, comecei direto no nível difícil, mas mesmo assim quase não tive dificuldades. Eu inclusive deixava de comprar armas novas e melhores para ter um pouco mais de desafio, e ainda assim passeei pelo game. Se esse for seu primeiro título, talvez seja melhor começar no normal, principalmente para se acostumar com o ritmo da ação.
Ys IX Monstrum Nox
Esse foi um dos jogos que eu mais me diverti jogando na vida. Depois que finalizei o jogo anterior, Ys VIII eu estava extremamente empolgado com a nova aventura de Adol Christin e, felizmente, ela supriu absolutamente todas as minhas expectativas. Conhecer Balduq, os outros Monstrum e personagens do game me trouxe uma alegria imensurável. Recomendo demais Ys IX Monstrum Nox e gostaria de tirar meu chapéu para a Nihom Falcom pelo excelente game e também para a NIS America, que trouxe uma localização de qualidade. Espero que a próxima aventura do Vermelho chegue o mais rápido possível, então agora só nos resta aguardar.