A chegada do Fold inaugurou o que muitos chamam de “futuro dos smartphones”, já que o modelo é o melhor exemplo, até o momento, de um junção entre smartphone e tablet, que agrada, principalmente, quem procura produtividade. A Samsung incluiu novos recursos e um sistema adaptado muito bem-vindos tanto para trabalhar, como múltiplos apps, quanto para curtir seus filmes e séries favoritos. Entretanto, tecnologia inovadora tem um preço – e não é dos mais acessíveis – o que pode fazer do Galaxy Fold um sonho distante para muitas pessoas. Com o recente lançamento no Brasil, cerca de 11 meses depois do anúncio, procuraremos responder nesta análise se vale a pena investir cerca de R$ 12.999 no primeiro smartphone dobrável comercialmente lançado no Brasil, ou se a melhor escolha é aguardar a segunda geração da linha, que chegará no próximo dia 11 de fevereiro.
Início conturbado
A Samsung foi a primeira multinacional a anunciar um smartphone com tela dobrável, mas ser o pioneiro vem sempre com grandes riscos. Mesmo sendo anunciado em fevereiro de 2019, a versão final do Galaxy Fold só chegou ao mercado em 27 de setembro, cinco meses depois da data inicial de lançamento prevista, que era dia 26 de abril. Esses cinco meses serviram para a Samsung corrigir os problemas na construção que ocorreram com as primeiras unidades enviadas aos veículos especializados. Resumindo, essas unidades tinham uma camada de proteção presa no topo da tela, que os jornalistas acreditaram que era removível. Quando a película sobre a tela era retirada, os aparelhos deixavam de funcionar. Também foi relatado na época que as partes superior e inferior da dobradiça possuíam um espaço considerável, o que facilitava a entrada de poeiras e partículas do dia a dia. Após o resolvimento dos problemas, o Galaxy Fold ficou disponível apenas em mercados selecionados, onde acumulou entre 400 e 500 mil unidades vendidas em pouco mais de três meses, segundo Koh Dong-jin, CEO da Samsung, durante entrevista na CES 2020. O resultado pode ser visto com aceitação, visto que o dobrável tem um preço bastante salgado (US$ 1.980, cerca de R$ 8.240 em conversão direta).
Design dobrável
Logo de cara o Galaxy Fold chama atenção pela sua construção. Quando dobrado, o smartphone tem um formato mais grosso em relação a outros modelos topo de linha, com 15.5mm de espessura. Suas 263 gramas são visíveis em qualquer bolso, mas tampouco incomodam. As partes frontal e traseira são construídas em vidro (modelo não especificado), com laterais em alumínio. O painel frontal do Galaxy Fold esconde uma tela externa de 4,6 polegadas que você vai usá-la quando não estiver no modo tablet. As bordas são extremamente grandes e o tamanho da tela pode parecer pequeno demais para o padrão atual. Abrindo o smartphone, em formato de livro, revela-se uma tela dobrável plástica de 7,3 polegadas feita. Chamada de Infinity Flex Display pela Samsung, a tela possui uma camada de pollimida altamente resistente que substitui o vidro. A solução traz seus prós e contras: por ser resistente, a construção permite que a tela seja dobrada inúmeras vezes sem apresentar algum defeito – inclusive, foram realizados diversos testes dobrando o Galaxy Fold milhares de vezes. Entretanto, o plástico é sensível a riscos, e a última coisa que você vai querer é que ele arranhe. Enquanto a tela interna é um pouco frágil, a dobradiça é até bastante resistente. Segundo a Samsung, o mecanismo de dobra tem um bloqueio de eixo duplo de 20 partes que impede que a tela ultrapassa 180 graus. Realizamos a abertura e fechamento do Galaxy Fold diversas vezes, e em nenhum momento parece que ele pode abrir acidentalmente, graças a um clique magnético feito fechar. Em relação às entradas do Galaxy Fold, há apenas uma porta USB-C 3.1 para carregamento e transferência de dados e Dual SIM. Infelizmente, a Samsung retirou a entrada de 3.5mm para fones de ouvido, o que não chega a ser um problema já que é disponibilizado um Galaxy Buds na caixa. O leitor de digitais também se encontra em uma posição inusitada: em vez da traseira ou na tela, a fabricante escolheu as laterais. Já adiantamos que mal o usamos, apesar de ser preciso e rápido. No geral, o manuseio durante nossos testes surpreendeu, porque tanto dobrado quanto desdobrado é possível acessar todas as extremidades do smartphone com facilidade, além de que, mesmo com o vidro traseiro escorregadio, seu peso não o deixa deslizar tão fácil entre as mãos. O Galaxy Fold acompanha uma capinha feita em kevlar para protegê-lo contra quedas, porém ela fica presa magneticamente, o que acaba ficando torta.
Duas telas
Maior diferencial do Galaxy Fold, a tela interna é simplesmente perfeita para visualizar conteúdos, ver filmes, séries e jogar. Apesar de não trazer formato widescreen, o 4.2: 3 é ideal para oferecer uma visão mais ampla e permite a utilização dos recursos multimídia do sistema. As 7,3 polegadas têm resolução de 1536 x 2152 pixels e tecnologia Dynamic AMOLED, que oferece cores vivas e pretos bem profundos, característicos dos smartphones da Samsung. Além disso, há suporte para o padrão HDR10+, que aumenta a taxa de contraste em qualquer conteúdo suportado e também intensifica o brilho ao ar livre. Um detalhe que incomoda no começo mas que se acostuma é o vinco visível em qualquer conteúdo na maioria das vezes. O Galaxy Fold não foge do notch, mas ele se encontra no lado direito superior e o sistema se adapta na maioria dos apps e jogos. Em relação á tela externa, é notável a diferença de qualidade na visualização, já a resolução passa a ser apenas HD+. Entretanto, a qualidade Super AMOLED em um tela consideravelmente menor tem boa qualidade no geral. Mas a verdade é essa: você não vai ver conteúdos com a telinha.
One UI adaptada
Não só o hardware passou por uma reestruturação completa, mas o software também precisou se adaptar para oferecer a melhor experiência da tela dobrável do Galaxy Fold. Embarcado de fábrica com o sistema Android 9.0 Pie, o smartphone roda uma interface modificada da One UI para tirar todo proveito da tela grande. A primeira novidade que se nota é a transição entre as telas interna e externa, que a Samsung chama de App Continuity, que adapta qualquer app para a tela grande e vice-versa. Por exemplo, se você estiver usando o Google Maps na telinha e precisa de mais área de visualização, basta abrir o Galaxy Fold para o mapa expandir diante dos seus olhos. O inverso também é possível, mas é necessário marcar os apps compatíveis previamente. Outra novidade é o Multi-Active Window, onde é possível ter até três aplicativos simultâneos na tela de 7,3 polegadas. Vale comentar que sim, é uma adaptação daquele do recurso de multitarefas muito bem-vinda, já que há mais espaço de visualização, mas não se engane: é um pouco apertado. Durante o lançamento do Galaxy Fold, a Samsung anunciou parcerias com o Google e alguns desenvolvedores de jogos para adaptar suas ferramentas e jogos na tela 4.2: 3 do smartphone. Embora os apps do Google e games como Asphault 9 sejam compatíveis, jogos como Pokémon GO e Yu-Gi-Oh Duel Links possuem menus ampliados demais ou tomados pelo notch, o que dificulta a jogatina.
Desempenho topo de linha
Um ponto que o Galaxy Fold pode decepcionar é em relação ao desempenho. Não que ele seja ruim – na verdade, é um dos smartphones mais potentes do mercado -, mas oferece um conjunto teoricamente ultrapassado se comparado aos concorrentes da segunda metade de 2019 e 2020. Ele é equipado com o processador Snapdragon 855, presente na linha Galaxy S10, Devido ao lançamento atrasado do Galaxy Fold, a escolha de manter o processador do final de 2018 não fez muito sentido, visto que uma versão atualizado do chipset, o Snapdragon 855 Plus, foi lançada pela Qualcomm em julho de 2019. A atualização trouxe melhorias do desempenho, foco em jogos e inteligência artificial. Ainda assim, as configurações do Galaxy Fold são parrudas, incluindo os 12GB de memória RAM, mais do que excelente para manter vários apps abertos ao mesmo tempo, além de possibilitar maior fluidez nos jogos e aplicações de realidades aumentada e virtual. Há ainda 512GB de armazenamento interno universal flash, permitindo a leitura de dados do sistema de forma fluida e extremamente ágil. Infelizmente, não há slot para expansão, o que seria muito bem-vindo pelo preço salgado do smartphone, mas durante a nossa utilização não chegamos a usar metade da capacidade.
Múltiplas câmeras
Ao todo, a Samsung incluiu seis câmeras no Galaxy Fold: uma câmera frontal quando está dobrado, de 10MP e abertura de f/2.2 wide; duas câmeras internas, de 10MP (f/2.2 wide) e 8MP (f/1.9 wide); e três câmeras traseiras, sendo o mesmo conjunto do Galaxy S10+, ou seja, a principal tem 12MP com abertura híbrida em f/1.5-2.4, a secundária também de 12MP com lente telefoto e abertura de f/2.4 com zoom óptico de 2x, fechando com a terceira de 16MP com lente ultra grande-angular e abertura de f/2.2.
A qualidade geral das imagens impressiona pelos detalhes. Fotos de paisagens possuem um contraste bastante presente e as sombras são preservadas ao máximo. Além disso, o sensor principal não estoura as imagens e a tecnologia Dual Pixel permite que mais luz entre em cada registro. Isso beneficia, principalmente, fotos em ambientes mais desafiadores, reduzindo o ruído e aumentando a nitidez.
A lente telefoto, por sua vez, não traz a mesma qualidade do Galaxy Note 10 Plus, mas o desfoque é muito bem feito e há a possibilidade de alterar o quanto de blur você quer mesmo após o clique. Teoricamente a mais fraca das três, a lente ultra grande-angular não decepciona em fotografar fotos de família, mas pode pecar em ambientes mais escuros.
Em relação à câmera frontal do painel da frente, o Galaxy Fold recebe a mesma configuração do Galaxy Note 10, só não traz a possibilidade de gravar vídeos ao vivo. A qualidade é boa tanto no modo normal quanto no modo Live Focus. Já as câmeras internas tem detecção de profundidade e é possível realizar selfies ao vivo com filtros, como o modo seletivo de ponto de cor em preto e branco.]
Nosso veredito final sobre as seis câmeras do Galaxy Fold é: para um smartphone do começo de 2019, ele é excelente, mas fica bem abaixo de outros modelos mais recentes no mercado, como o Google Pixel 4XL e o iPhone 11 Pro.
Bateria duradoura
Com duas telas – sendo uma do tamanho de um tablet -, hardware potente e software focado em multitarefas, a autonomia do Galaxy Fold não poderia ser pouca coisa. E não é. Na verdade, o smartphone traz dois módulos, que combinados dão 4.380mAh. Em números, há modelos no mercado com apenas um tela e bateria melhor, mas na prática o Galaxy Fold se mostrou muito guerreiro, aguentando, em média, mais de um dia e meio, dependendo da utilização. Trabalhando em casa, com Wi-Fi ligado o tempo todo e brilho em 100%, obtivemos um dia inteiro de utilização em navegação na internet, vídeos no YouTube, múltiplos apps abertos e alguns jogos uma vez ou outra. O carregamento do Galaxy Fold não é dos mais rápidos do mercado, porém, com 15W de potência – mesma do Galaxy S10. Ou seja, mesmo se você tiver um carregador de 45W do Note 10, o smartphone dobrável não será compatível.
Considerações finais
O Galaxy Fold foi, sem dúvidas, o smartphone mais inovador de 2019. E isso faz com que a nova geração, que será apresentada no próximo dia 11 de fevereiro, seja aguardada com muita expectativa. Ele é uma verdadeira máquina de produtividade, perfeito para quem procura trabalhar longe de casa, facilitando a vida multitarefa com sua grande tela. Unindo smartphone e tablet em um só produto, o Fold quebra a barreira do tradicional e renova o mercado de dispositivos móveis. Mas, como toda inovação que rompe com o status quo, os custos iniciais são bem altos. Mesmo com todas as suas qualidades, o preço exorbitante do Fold praticado no Brasil, que chega a quase 13 mil reais, certamente limitará o número de interessados. A decisão de compra deve pesar muito aqui, separando quem prefere modelos com melhor custo-benefício dos que buscam adotar as mais inovadoras tecnologias, seja qual for seu preço. E você, o que achou do Galaxy Fold? Investiria cerca de R$ 13 mil em um smartphone dobrável? Deixe nos comentários.