Finalmente, o holofote no trapaceiro – mas qual?
O elemento mais bem-vindo no terceiro episódio de Loki foi, certamente, o tempo dedicado à personagem que dá nome à série. Não que estivesse chato explorar a Autoridade de Variância do Tempo (AVT) – aliás, a contextualização feita pelos primeiros episódios foi muito necessária, e Mobius é um personagem cativante -, mas todos estávamos esperando que o vilão mais querido da Marvel tomasse as rédeas do enredo em algum momento. Dessa vez, no entanto, temos mais de um Loki! (será?). Apresentada no final do episódio passado, a suposta Lady Loki (Sofia Di Martino) contracena com o deus da trapaça em uma relação cheia de conflito e desconfiança. O problema é que ninguém ainda tem certeza sobre a identidade da personagem – informando que não gosta de ser chamada de Loki, mas sim de Sylvie, ela nos dá uma dica preciosa: de que talvez ela seja Sylvie Lushton, uma estadunidense cujos poderes asgardianos foram conferidos pela verdadeira Lady Loki, que resolveu enganar uma simples humana no meio de seu tédio. Se é isso mesmo que vem por aí ou se o nome é apenas uma referência passageira, só o tempo dirá. A interação entre Loki e Sylvie traz a situação já manjada (e às vezes difícil de ser bem executada) dos antagonistas que precisam se unir para escapar de uma situação complicada e que acabam colaborando e até mesmo se afeiçoando. Com dois deuses da trapaça querendo enganar um ao outro, não esperaríamos nada menos do que alguns embates físicos e muitos truques – ou a tentativa deles, pelo menos. Como o enredo trata do maior apocalipse da história, no planeta Lamentis-1 em 2077, até que a desculpa para o trabalho em equipe é boa – mas a melhor desculpa não adiantaria se a interação não funcionasse. E a interação funciona muito bem – imagine se você pudesse conversar consigo mesmo, numa versão de outro universo? A curiosidade de saber o quão diferente – ou iguais – as coisas aconteceram certamente seria enorme. Tanto Sylvie quanto Loki não conseguem se segurar e perguntam sobre suas respectivas mães e sobre como ganharam seus poderes mágicos, mostrando as principais diferenças em suas vidas e gerando momentos bonitos, como as especulações sobre o amor.
Aprofundamento das personagens
Um ponto interessante, aliás, é a confirmação de que Loki é bissexual, quando Sylvie pergunta se uma princesa ou príncipe não existiria na vida do asgardiano – e quando o mesmo rebate, presumindo que ela também seja. É muito bom ver a inclusão de personagens LGBTQIA+ acontecendo de forma tão natural e despretensiosa (apesar de eu ter achado que o diálogo tenha começado de uma forma um pouco estranha – quem é que pergunta se há um par romântico te esperando no meio de um apocalipse, quando a poucas horas vocês estavam tentando se matar?). Algo que causou na internet no início da série, mas que não é mostrado de forma tão óbvia na série, é a fluidez de gênero de Loki – em sua ficha da ATV, o campo “Sex” está marcado como “Fluid”. Isso pode ter sido mais uma pista sobre a Lady Loki, mostrando as variações da personagem em diferentes universos, do que uma verdadeira referência à comunidade LGBTQIA+ (ainda mais porque sabemos que sexo e gênero são coisas diferentes), mas de qualquer forma já é uma maneira interessante de mostrar, de maneira muito fiel aos quadrinhos, aliás, como Loki transita entre conceitos com muita facilidade.
A trama se complica
Se segure na cadeira, porque os plot twists estão só começando. Devo admitir que, pelos trailers e primeiros episódios da série, eu estava achando que ela se limitaria a isso mesmo – Loki tentando ajudar Mobius a capturar sua contraparte pelo tempo e tendo almoços cômicos pela AVT, escanteado e apenas tentando sobreviver. Não que viagens insanas pela história não sejam legais – o historiador formado aqui se acabou com Loki falando do apocalipse sulfúrico em latim aos pompeianos aterrorizados -, mas ficaria repetitivo caso a trama apenas envolvesse isso até os episódios conclusivos. Foi uma grata surpresa se afastar da organização temporal por um tempo e ter algumas revelações bombásticas na trama. A curiosa cena de Sylvie tentando arrancar informações da homem-minuto da AVT já nos deu uma dica do que estaria por vir mais à frente: a grande revelação de que os agentes do tempo não são, em realidade, criados pelos Guardiões do Tempo, mas sim todos Variantes, como os próprios protagonistas. Podemos, então, supor que todos passam por algum tipo de controle mental para exercer a função de manter a linha temporal de maneira que agrade aos chefes. Neste sentido, até dá para dar razão à Sylvie quando ela chama a TVA de fascista (apesar da estética cinquentista ter muitos elementos de design que remetem mais à União Soviética). A série, no entanto, já desvia a atenção para outros acontecimentos, e somos deixados para digerir essa informação sozinhos, esperando que o roteiro traga isso de volta à trama.
E esse final?
O imediatismo e a tensão do episódio não deram trégua para os espectadores, já que um apocalipse não é coisa pouca. Com uma vibe bem Snowpiercer, trazendo um trem e uma arca onde os seres humanos restantes embarcam (isto é, de forma diferente, já que neste caso só os abastados têm tal acesso), o episódio termina muito mais catastrófico do que se poderia imaginar – a arca é destruída por destroços da lua, e nossas personagens ficam, literalmente, de mãos vazias, sem saber o que farão para escapar em seguida. Com tantos nós deixados em nossa cabeça, difícil prever o que vem por aí – talvez Mobius ou outros homens-minuto cheguem para salvar o dia, não-intencionalmente? Minha cena favorita no episódio certamente vai para o momento, no trem, onde um Loki bêbado canta uma canção um tanto melancólica na língua nórdica de seu povo. Tom Hiddleston está fazendo um papel particularmente bom na série, trazendo emoção quando necessário, mas sem deixar de ser canastrão e malandro como o personagem demanda. Suas interações mais sérias com Sylvie são de encher os olhos. De resto, posso dizer com tranquilidade que este foi o melhor episódio até agora, trazendo personagens com boa química e que foram aprofundados de forma satisfatória até o momento, boas coreografias de luta e boas sacadas humorísticas. Não é de se rir o episódio todo (eu, particularmente, só ri audivelmente na cena de diálogo com a senhora isolada na cabana), mas é algo bem dosado, apesar de pouco audaz. E, no final das contas, até senti falta da presença de Mobius, cujo carisma – proporcionado pelo ótimo Owen Wilson – é bastante cativante. E você, curtiu a presença de Sylvie no episódio? Qual foi sua cena favorita? Conte para nós aí nos comentários! E não se esqueça de continuar aqui no Showmetech para poder ler nossas resenhas de outros episódios.