Na segunda-feira (10), o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, disse que pode ser a hora de mudar como se rastreia a evolução da COVID-19 para, em vez disso, usar um método semelhante à gripe, porque sua letalidade caiu. Em outras palavras, isso significaria tratar o vírus como uma doença endêmica, e não como uma pandemia, sem registrar todos os casos e sem testar todas as pessoas que apresentem sintomas. A proposta de mudanças, que vem sendo desenvolvida há alguns meses pelas entidades sanitárias do país, deve ficar pronta no primeiro semestre de 2022. O objetivo é ir abandonando gradualmente a metodologia de vigilância da COVID-19 utilizada atualmente, substituindo-a por um sistema de acompanhamento, tal como já acontece, há anos, com a gripe. Com isso, medidas mais enérgicas como isolamento social e quarentena deixariam de existir. Além da Espanha, a ideia vem ganhando força e encorajando uma reavaliação das estratégias dos governos para lidar com o vírus em outros países europeus. O secretário de Educação britânico, Nadhim Zahawi, disse no domingo (9) à BBC que o Reino Unido está “no caminho da transição de pandemia para endemia”. Para países que vêm registrando um alto nível de casos neste início de ano — é o caso de França, Alemanha, Itália e Romênia — essa estratégia pode ainda estar longe de ser colocada em pauta. Além disso, a Organização Mundial da Saúde disse, nesta terça-feira (11), que mais da metade das pessoas terá contraído a variante ômicron do coronavírus nos próximos dois meses, se o ritmo atual de transmissão se mantiver. Na contramão, países como a França e a Alemanha continuam a endurecer as restrições, especialmente aos não vacinados. O presidente francês, Emmanuel Macron, disse que quer tornar a vida dos não vacinados o mais difícil possível e está tentando tornar obrigatória a apresentação de um passe de vacina para o acesso a estabelecimentos como bares e restaurantes. A Holanda também mantém restrições aos seus residentes, incluindo tendo um dos bloqueios mais rígidos da Europa, com restaurantes e bares fechados. Na Itália, o governo do primeiro-ministro Mario Draghi impôs vacinas para pessoas com mais de 50 anos.
Argentina também quer tratar COVID-19 como gripe comum
Na América do Sul, o país argentino já deu indícios de que também deve começar a afrouxar as restrições no combate a pandemia de coronavírus. No início desta semana, a ministra da Saúde da Argentina, Carla Vizzotti, sugeriu que a COVID-19 poderá começar a ser tratada como uma “gripe comum”. Segundo notícias da imprensa local, publicadas na segunda-feira (10), o governo argentino analisa dar fim às medidas de isolamento obrigatório para aqueles que tiveram contato com pessoas infectadas com COVID-19. A ministra argentina falou ainda sobre a possibilidade de parar de contar os casos. “O que se observa na evolução da doença, que realmente é como a catapora, a gripe ou este categoria de doença, é que, na transição para a endemia, não é necessário testar todos os casos e que o isolamento tem outro papel. Quer dizer, ele perde o valor para controlar a doença”, declarou Vizzotti. A fala da ministra pegou muitos de surpresa, principalmente devido ao momento vivido pela Argentina na pandemia. Na quinta-feira (7), o país registrou um número recorde de casos de COVID-19 pelo terceiro dia consecutivo, com quase 110 mil casos. Especialistas temem que a variante ômicron, altamente infecciosa, impulsione uma terceira onda pandêmica no país. Para tentar conter a alta nos números, o país sul-americano acelerou sua campanha de vacinação nos últimos meses. No começo da campanha, foi usada a vacina Sputnik V, depois foram acrescentados os imunizantes da AstraZeneca e da Sinopharm e, posteriormente, CanSino, Pfizer e Moderna. Ao todo, a Argentina já registrou quase 6,5 milhões de casos de coronavírus e 118 mil mortes desde o início da pandemia.
OMS pede cautela
Catherine Smalwood, responsável pelo setor de emergências da direção-regional da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a Europa, afirmou hoje que é preciso haver uma “circulação estável do vírus em níveis previsíveis” antes que a COVID-19 possa ser tratada como endêmica. O posicionamento veio logo após o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, ter sugerido ontem que a doença seja tratada como endêmica. Segundo a porta-voz da OMS, a pandemia de COVID-19 está no caminho de se tornar uma doença endêmica. Mas para isso acontecer, é necessário que a vacinação seja mais equitativa entre os países, uma meta que está longe de ser alcançada no cenário atual. Dados da entidade mostram que metade dos países-membros da entidade não atingiram o objetivo de vacinar 40% de suas populações contra o coronavírus. “Ainda temos uma enorme incerteza e um vírus que está evoluindo rapidamente, impondo novos desafios. Certamente não estamos no ponto em que podemos chamá-lo de endêmico”, disse Smallwood. “Pode se tornar endêmico no devido tempo, mas fixar isso ao longo de 2022 é um pouco difícil neste estágio”, finalizou a representante da OMS. Nesta terça-feira, a OMS também advertiu que, caso o ritmo atual de transmissão se mantiver, mais de 50% da população da região europeia terá contraído a variante ômicron do coronavírus nos próximos dois meses. “Nesse ritmo (…), prevê-se que mais de 50% da população da região terá sido infectada com a variante ômicron nas próximas seis, ou oito, semanas”, disse o diretor da região Europa na OMS, Hans Kluge, em entrevista coletiva. A região Europa da OMS é composta por 53 países e vai até à Ásia Central. Nesta área, foram registrados 7 milhões de novos casos de covid-19 na primeira semana de 2022. Segundo dados da OMS, desde 10 de janeiro, 26 países da região relataram que mais de 1% de sua população foi infectada a cada semana.
Veja também:
Uma nova variante, chamada Deltacron, foi descoberta nas primeiras semanas de janeiro em Chipre. Sem ser reconhecida pela OMS, já se sabe que ela possui informações genéticas das variantes Delta e Ômicron. Fontes: Bloomberg, Reuters, Fortune, Isto É Dinheiro, Pleno News.