O filme de 1998, Mensagem para você , com Tom Hanks e Meg Ryan, representou nas telas um relacionamento por trocas de e-mail com um desconhecido e apontava a tendência do momento – pessoas se conhecendo por sites ou troca de mensagens online. Poucos anos depois, muitos sites de relacionamentos apareceram, como o eHarmony em 2000 e o Ashley Madison em 2001. Mas é com a chegada de um novo aplicativo para namoro online em 2012, o Tinder, que alcançamos uma mudança na forma como encontramos pessoas para nos relacionarmos. No final de 2019, o aplicativo atingiu 5,9 milhões de usuários pagantes e são muitos os casos de pessoas que se conheceram pelo aplicativo e que hoje possuem relacionamento duradouro. Esses exemplos mostram que, no final das contas, existe amor no Tinder. Hoje, mais de um terço dos casamentos começam online e é com base nesta afirmação que os pesquisadores Josue Ortega, da Universidade de Essex, na Inglaterra, e Philipp Hergovich, da Universidade de Viena, na Áustria, desenvolveram um estudo sobre como os encontros online mudam a integração social. Eles partiram do princípio de que antes das redes sociais e dos sites de namoro as pessoas eram mais ligadas a vizinhos e a quem viviam próximo. Agora, mesmo que ligadas a um pequeno grupo de pessoas próximo, muitos indivíduos estão ligados com outros que estão a quilômetros de distância também – o que os pesquisadores chamam de “conexões frouxas”, mas que fazem toda a diferença. Segundo eles, essas conexões frouxas servem de ponte entre nosso grupo de amigos íntimos e outros grupos, permitindo que nos conectemos à comunidade global. Ou seja, tradicionalmente, essas conexões desempenham o papel de reunir as pessoas. Embora a maioria das pessoas opte por não namorar um de seus melhores amigos, é muito provável que tenha relacionamentos amorosos com pessoas próximas deles. Na teoria das redes, os parceiros de namoros foram incorporados nas redes um do outro. Se pensarmos nisso, quantas pessoas você conhece que encontraram seus parceiros através de amigos em comum, em bares, no trabalho, em suas famílias, e assim por diante?
Namoro online aumenta relações inter-raciais
Os encontros atuais formados pela internet mudaram tudo isto. Hoje, o namoro online é a segunda maneira mais comum de casais heterossexuais se encontrarem – para pessoas do mesmo sexo, é de longe o mais popular. Para Ortega e Hergovich isso acontece porque as pessoas que se conhecem pela internet tendem a ser completamente desconhecidas. E quando se encontram dessa forma, vínculos que antes eram inexistentes são estabelecidos. É um detalhe que tem grande peso para pesquisadores que estudam como isso altera a diversidade étnica da sociedade. Os pesquisadores então simulam o que acontece quando ligações extras são introduzidas em uma rede com homens e mulheres de diferentes etnias. Na rede do estudo, todos querem se casar com uma pessoa do sexo oposto com que tenham algo em comum. Isso leva, quase obrigatoriamente, a uma sociedade com um nível relativamente baixo de casamentos entre pessoas de diferentes origens. Mas, ao implementarem links aleatórios entre pessoas de diferentes grupos étnicos, o número de casamento inter-racial aumenta. De acordo com os pesquisadores, a porcentagem de casamentos de casais inter-raciais aumentou rapidamente após o aparecimento dos primeiros sites de relacionamento. E em meados de 2014, a hipótese de que casamentos inter-raciais aumentaram por meio de namoros online ganha força com a criação do Tinder, considerado o aplicativo mais popular para quem procura parceiros online. Um outro efeito surpreendente observado pelos pesquisadores ao avaliarem a estabilidade dos casamentos antes e depois da introdução do namoro online é que casamentos que surgiram a partir das ferramentas disponíveis na internet tendem a ser mais fortes e com menos taxas de separação do que os relacionamentos iniciados de forma tradicional. De forma geral, os aplicativos e sites de encontros permitem que novas conexões sejam estabelecidas. Mesmo que existam críticas de que nossas relações estão cada vez mais frágeis e com pouco tempo de duração por conta da internet, a rede permite que pessoas de diferentes comunidades se encontrem fora de grupos sociais aos quais elas fazem parte. E, no final, essa mobilidade social e de diversidade maior em nossas relações apresentam uma clara mudança positiva em todos os níveis da sociedade. Fonte: MIT Technology Review