Este é apenas mais um capítulo na história de quase 13 anos do CEO da Tesla no Twitter, onde ele desempenhou os papéis de crítico e usuário assíduo. Mas o que a entrada de Musk pode significar para o Twitter? Quais os planos que o empresário tem para a rede social e de que maneira isso pode impactar todo o mercado? São perguntas que todos se fazem nesse novo momento da plataforma.

A compra das ações do Twitter

Apesar de só ter sido divulgada na última segunda-feira (4) através da publicação de um documento regulatório, a compra das ações por Musk aconteceu no dia 14 de março. De forma geral, o mercado reagiu de forma positiva ao interesse do bilionário pelo Twitter, que acumulou uma alta de 30% no valor de mercado no dia do anúncio, chegando a ser avaliada em mais de US$ 40,8 bilhões — o maior valor desde novembro do ano passado. Apesar da porcentagem de 9,2% parecer pequena, ela é de “se espantar”, segundo o analista Dan Ives. De acordo com ele, a porcentagem equivale a 73,5 milhões de ações da rede social. Outro ponto que chama a atenção sobre a entrada de Musk para o Conselho do Twitter é uma das condições para assumir o cargo, que diz que o empresário não pode comprar mais de 15% das ações da rede social. A participação acionária de Musk é quatro vezes maior que a do fundador do Twitter, Jack Dorsey, que deixou o cargo de presidente-executivo da companhia em novembro. Quem também se pronunciou foi o próprio Parag Agrawal. Em um tuíte, o executivo disse: “Estou feliz em compartilhar que estamos nomeando @elonmusk para nosso conselho! Por meio de conversas com Elon nas últimas semanas, ficou claro para nós que ele traria grande valor ao nosso conselho”. De acordo com a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA, ele ficará no Conselho do Twitter até 2024. Apesar das palavras cordiais, a relação entre Musk e Agrawal não é das mais amistosas. Em novembro do ano passado, quando o atual CEO do Twitter assumiu o cargo de comando, Musk chegou a compará-lo ao ditador soviético Joseph Stalin. Portanto, esse clima pode levantar ainda mais desafios para o futuro da plataforma. Atualmente, além de Parag Agrawal e Elon Musk, o conselho da rede social também conta com os seguintes nomes:

Jack Dorsey, fundador do Twitter e da fintech Square;Bret Taylor, co-CEO da empresa de automação de marketing Salesforce;Mimi Alemayehou, vice-presidente sênior de parcerias da Mastercard;Ergon Durban, co-CEO da gestora de investimentos Silver Lake;Martha Lane Fox, membro do conselho da WeTransfer e da Chanel, e ex-diretora executiva da lastminute.com;Omid Kordestani, ex-presidente executivo do Twitter;Dr. Fei-Fei Li, professor da Universidade de Stanford;Patrick Pichette, sócio da gestora de investimentos Inovia Capital e ex-CFO (diretor financeiro) do Google;David Rosenblatt, CEO da loja de decoração online 1stdibs.com;Robert Zoellick, ex-diretor do conselho de acionistas da gestora de investimento AllianceBernstein Holding.

Relação conturbada e polêmicas

Elon Musk tem uma relação de amor e ódio com o Twitter, principalmente devido às polêmicas em que já se envolveu na rede social. Seus tweets, que vão desde comentários sobre seus negócios até declarações sobre cultura pop e eventos atuais e memes, são acompanhados de perto por mais de 80 milhões de seguidores, mais do que qualquer outro CEO na plataforma. Ele também é conhecido por comentários a respeito das criptomoedas, mostrando-se um grande influenciador dentro deste mercado, já que suas palavras têm poder para transformar todo um cenário em apenas poucos segundos. O empresário é também um crítico sobre liberdade de expressão e políticas de moderação de conteúdo no ambiente online. No mês passado, ele realizou uma enquete no Twitter onde perguntava: “A liberdade de expressão é essencial para uma democracia em funcionamento. Você acredita que o Twitter adere rigorosamente a esse princípio?” Cerca de 70% dos respondentes votaram não. A enquete contou com a participação de mais de dois milhões de pessoas. Em 2018, Elon Musk foi investigado pela Security Exchange Comission (SEC) após ter postado um tuíte na rede social, em que dizia: “Estou considerando tornar a Tesla privada quando as ações chegarem a US$ 420 cada”. A SEC entendeu que Musk poderia ter cometido fraude e manipulação de mercado, principalmente porque a mensagem impulsionou o valor de mercado da montadora, subindo de US$ 58,1 bilhões para US$ 64,5 bilhões em apenas 24 horas. Para resolver essa situação, em 2019 ele aceitou um acordo no qual precisaria submeter seus tuítes a uma revisão antes de serem publicados, além de ter pagado uma multa milionária de US$ 40 milhões. Além de sua briga com a SEC, o empresário sul-africano, fundador da Tesla e da SpaceX, também enfrentou críticas por usar o Twitter para espalhar alegações enganosas e inflamatórias sobre a COVID-19, e por zombar do presidente Joe Biden e dos senadores Elizabeth Warren, Ron Wyden e Bernie Sanders. Musk também postou, no início deste ano, um meme comparando o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau a Adolf Hitler. Recentemente, Musk ainda cogitou criar a sua própria rede social, assim como fez o ex-presidente Donald Trump no ano passado. As intenções demonstram uma insatisfação com as políticas atuais do Twitter, plataforma que já foi criticada por censura em outras oportunidades. Mesmo com a relação conturbada, Agrawal acredita que a entrada de Musk deve fortalecer a empresa no longo prazo. “Ele é um usuário apaixonado e um crítico intenso do serviço, que é exatamente o que precisamos no Twitter”, postou o CEO da rede social.

O que pode mudar no Twitter

Após ter a sua entrada no Conselho de Administração anunciada, Elon Musk tuítou que novidades estariam chegando em breve e que “espera ajudar a rede social a ter melhorias significativas nos próximos meses”. Uma das primeiras coisas que ele fez foi lançar uma enquete na rede social onde perguntava se a plataforma deveria incluir uma opção de editar tweets, funcionalidade há muito tempo solicitada pelos usuários. A enquete foi acompanhada de perto pelo CEO do Twitter, que disse que “as consequências desta pesquisa serão importantes”. Para o Twitter, incluir essa nova ferramenta num futuro próximo significaria uma grande mudança na rede social, e Musk está claramente interessado em fazer parte dessa conversa, mesmo que ainda não tenha dado mais detalhes sobre o assunto. Segundo informações levantadas pela Época Negócios, algumas declarações dizem que Musk pode mudar a cultura do Twitter. Com isso, funcionários da empresa estariam preocupados com a chegada do bilionário à empresa. As maiores preocupação, segundo declarações à Reuters, são a possibilidade da empresa conseguir moderar conteúdo. Além de seus comentários sobre a necessidade de preservar a “liberdade de expressão” na plataforma, ele sugeriu que o Twitter torne seu algoritmo de código aberto. As últimas falas de Musk em relação a mudanças na rede social demonstram o interesse do empresário em trazer modificações que possuam grande apelo perante aos usuários da plataforma. “Embora não tenhamos certeza sobre as intenções de Musk – se ele aumentará ainda mais sua participação, se tornará um acionista ativo e/ou exigirá um assento no conselho da empresa – acreditamos que sua comunicação com a empresa, outros acionistas e a plataforma 217 milhões de usuários ativos diários podem afetar a estratégia de longo prazo do Twitter”, disse o analista da Morningstar, Ali Mogharabi, em nota aos investidores na segunda-feira. Ele completa dizendo que “Musk pode tentar influenciar a abertura da plataforma e como ela controla o conteúdo ou pressionar para investir no modelo de assinatura de forma mais agressiva, como fez com o Twitter Blue”. Já para a professora assistente da Universidade de Cornell, Alexandra Cirone, Musk pode usar sua nova participação “para tentar influenciar as práticas do Twitter” e para um “jogo mais ativo no ecossistema de mídia social”. Ainda não está claro o que exatamente pode mudar com a entrada de Elon Musk no Twitter. O único fato concreto até o momento é o de que o empresário pode passar de uma das vozes mais proeminentes do Twitter para uma das mais influentes dentro da empresa.

Veja também:

Saiba como denunciar desinformação e fake news no Twitter. Fontes: G1, CNN Brasil.

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