A missão Apollo 15, em 1971, foi responsável por estrear o primeiro veículo lunar conhecido como Lunar Roving Vehicle ou, simplesmente, Moon Buggy. As funções do primeiro carro a pousar na Lua são extremamente básicas, entretanto demandou um esforço enorme de estudo na época devido à dificuldade de se locomover em solo lunar considerando a gravidade menor do que a do nosso planeta. Mas afinal, o que são esses veículos e quais eram as suas utilidades nas missões?
A criação e as funcionalidades do Moon Buggy
Testado em solos irregulares na Terra em projetos da NASA, o Moon Buggy foi concebido por suposições e tentativas utilizando projeções de como é o terreno lunar, tudo sem a exatidão da engenharia atual para estipular como o veículo se comportaria em baixa gravidade e no vácuo. Antes mesmo da humanidade pisar na Lua, já se pensava em projetos de veículos para locomoção no satélite natural. No início dos anos 60, o diretor do Marshall Space Flight Center da NASA alegou a necessidade de construção de um veículo que permitisse o deslocamento na Lua e revelou que já haviam estudos sendo feitos por instituições como as empresas Boeing, General Motors e diversas outras empresas de engenharia. Sem dados precisos sobre o solo e as condições do local, grande parte do projeto de criação do Moon Buggy foi feito a partir de estimativas sem o embasamento necessário que temos nos tempos atuais. Enfim, em 1964, a NASA fechou contrato com a Bendix e a Boing utilizando laboratórios da General Motors para a construção do que seria o primeiro carro próprio para solo lunar. Apesar de todos os problemas enfrentados na época, o primeiro meio de transporte feito para locomoção fora do planeta Terra foi criado com sucesso. O Apollo Lunar Roving Vehicle ou Moon Buggy é um veículo que utiliza bateria elétrica e é feito especialmente para operações em gravidade baixa da Lua. O carro é capaz de percorrer longas distâncias de tal forma a facilitar o trabalho dos astronautas durante as missões no nosso satélite natural. A primeira versão do LRV (Lunar Roving Vehicle) proposta se assemelhava a um trator com grandes rodas, com cerca de 10 toneladas e, posteriormente, uma cabine pressurizada. Por fim, houve a necessidade de corte de gastos para o transporte desse veículo e sua versão final possui 210 kg de massa, desenvolvido com o intuito de carregar até 490 kg, considerando que o peso é influenciado pela variação da força gravitacional, ou seja, a força peso resultante nesses veículos enquanto em missão na Lua era substancialmente menor do que um veículo carregando 490 kg de massa em solo terrestre. Com duas baterias que forneciam tensão de 36 volts e capacidade de 121 ampères hora, o veículo conseguia atingir velocidade máxima de 13 km/h e autonomia de 92 km. Para essa locomoção era utilizado um motor elétrico de 0,18 kW com o motorista do carro utilizando um joystick para controlar o veículo. Além disso, os Moon Buggies contavam com diversos equipamentos que seriam utilizados para captação de imagens e que seriam úteis para possibilitar uma viagem mais segura para seus tripulantes. A sua concepção foi realizada considerando diferentes problemas que incluíam a mobilidade, potência do veículo, navegação, comunicação entre o Moon Buggy e outros astronautas da missão, proteção térmica contra as radiações de corpos celestes e todo seu sistema de controle que deveria ser simples o suficiente para auxiliar os astronautas durante a viagem. Esses veículos tinham como função permitir maior mobilidade dos astronautas, permitindo que fosse possível dirigir nas vizinhanças do local de pouso para realização de observações geológicas, coleta de amostras de rochas e solos e outros diversos experimentos científicos. Um dos instrumentos científicos transportados pelo veículo foi um gravímetro, utilizado para medição e mapeamento de campo gravitacional. Auxiliando tanto na mobilidade dos astronautas quanto no deslocamento de equipamentos de pesquisas científicas, os veículos se tornaram essenciais nas últimas missões de exploração da Lua.
Em quais missões eles foram utilizados?
Apesar dos inúmeros esforços na elaboração desses veículos, não foram muitas ocasiões em que foram utilizados devido ao alto custo para o seu transporte e pelo fato de que tais missões ocorreram em um momento de crise devido aos gastos gerados durante a Guerra Fria, que impossibilitaram maior investimento nesse tipo de missão. Vamos ver quais foram as missões que utilizaram os Moon Buggies e como:
Apollo 15
A primeira missão a contar com o uso do veículo foi a Apollo 15, do projeto Apollo, realizada pela NASA. Esse foi quarto pouso na Lua e o primeiro com intenção de passar uma estadia mais longa na superfície lunar. A missão foi lançada pelo foguete Saturno V em 26 de julho de 1971, terminando doze dias depois em 7 de agosto, com a exploração lunar sendo realizada durante 4 dias nesse intervalo. A viagem do veículo durante a exploração foi em direção ao canal Hadley, com o carro sendo extremamente testado no percurso e demonstrando um sistema de navegação preciso. Em outros momentos dessa missão, houve dois novos passeios visitando o Monte Hadley e novamente o canal para a coleta de amostras de rochas.
Apollo 16
A missão Apollo 16 foi a penúltima vez que a humanidade pisou na Lua e a segunda vez que foram utilizados os Moon Buggies. Assim como a sua antecessora, a viagem foi realizada com intenção de permanecer por um maior período. As viagens do veículo lunar obtiveram uma distância total percorrida de 26 quilômetros e foram feitas na visita às montanhas Stone e à cratera North Ray, sendo realizada no percurso a coleta de amostras geológicas bem mais antigas do que as adquiridas nas missões anteriores.
Apollo 17
Sendo a sexta e última missão tripulada com objetivo de chegar na Lua proveniente do Projeto Apollo, a missão Apollo 17 foi completada em dezembro de 1972. Sendo a missão que mais tempo permaneceu na superfície lunar, a Apollo 17 é até hoje a última viagem tripulada para fora da órbita terrestre. O Moon Buggy foi usado em três viagens pelo vale de Taurus-Littrow nessa missão. Tais viagens duraram um pouco mais de 7 horas cada e durante a partida da Lua pelo módulo lunar, o veículo foi responsável por filmar a sua decolagem em direção a Terra.
Qual o futuro dos veículos lunares?
A série de missões responsáveis pelo futuro da exploração espacial é denominada utilizando o nome da irmã de Apollo na mitologia grega, Ártemis. O programa Ártemis tem como objetivo estabelecer uma base permanente na Lua e para isso uma das promessas da NASA é o uso de um novo tipo de veículo lunar para substituir os Moon Buggies, após anos de utilização na maioria das atividades espaciais da agência. Responsável por explorar centenas de quilômetros da superfície da Lua em missões individuais com duração de meses, a NASA está desenvolvendo o Lunar Electric Rover. Com uma cabine pressurizada e o formato de um caminhão com 12 rodas, o veículo pode ser utilizado como moradia, possibilitando que os astronautas possam dormir em seu ambiente interno por até 14 dias e possuindo até mesmo instalações sanitárias — afinal, realizar as necessidades básicas é algo importante também. Além disso, outro projeto anunciado em 2019 revelou um novo veículo que estaria sendo desenvolvido pela Toyota, em parceria com a agência espacial japonesa Jaxa, com expectativa de que o veículo esteja pronto para ir ao espaço em 2029. Com 6 metros de comprimento e 5,20 metros de largura, o futuro carro lunar seria um SUV com cabine pressurizada capaz de levar até quatro passageiros. O veículo irá contar com uma célula de combustível para gerar energia própria para as baterias do motor elétrico, permitindo autonomia de até 10 mil quilômetros. Veja também: Fizemos uma matéria completa sobre todas as viagens à Lua pela NASA, uma matéria sobre o futuro da exploração espacial e um vídeo contando o motivo da humanidade não ter ido mais à Lua nas últimas décadas. Confira o conteúdo a seguir: Fontes: NASA, Wired e A Brief History of the Lunar Roving Vehicle.