A viagem espacial do foguete Falcon 9 com a capsula Crew Dragon entra para a história como o primeiro voo espacial tripulado realizado por uma empresa privada. A missão é histórica, também, por ser a primeira em quase uma década em que astronautas são enviados ao espaço a partir dos EUA. Isso não acontecia desde 2011, quando o programa espacial da NASA foi encerrado. O lançamento do voo espacial tripulado ocorreu às 16h22 (horário de Brasília), a partir do Complexo de Lançamento 39A no Centro Espacial Kennedy da NASA, na Flórida (EUA). O objetivo da missão espacial é transportar os astronautas Robert Behnken e Doug Hurley em segurança até a Estação Espacial Internacional (EEI) e depois trazê-los de volta à Terra. A missão espacial também vai servir de teste para validar se a SpaceX está apta para transportar pessoas para o espaço, do lançamento ao retorno da espaçonave para o planeta. A missão é o último teste para que a empresa seja certificada para realizar voos espaciais tripulados como parte do Commercial Crew Program (Programa de Tripulação Comercial, em tradução livre) da NASA, criado após o encerramento do programa espacial. Confira abaixo os detalhes sobre os preparativos e o lançamento da missão espacial Demo-2.
Preparativos para o lançamento do voo espacial tripulado
O lançamento da missão espacial Demo-2 tem dez etapas, desde os preparativos até a chegada da espaçonave à órbita do planeta. Confira abaixo: Na primeira etapa dos preparativos, os astronautas Doug Hurley (comandante da missão) e Robert Behnken vestem os uniformes espaciais e passam por uma bateria de testes, em que as equipes técnicas da SpaceX checam os aparatos de comunicação e qualquer tipo de vazamento nos trajes. O objetivo dos uniformes é servir como uma espécie de casulo pressurizado para proteger os astronautas caso ocorra despressurização. Os testes acontecem no prédio de Operações e Checkout Neil Armstrong, que fica no Centro Espacial Kennedy da NASA. Ao saírem do prédio de Operações e Checkout Neil Armstrong, a dupla de astronautas foi recebida por membros da família. É nesse momento em que eles podem se despedir de todos, logo antes de embarcarem num carro modelo X da Tesla, outra empresa de Elon Musk, especialmente adaptado para transportar os dois até a plataforma de lançamento. Por conta das medidas de distanciamento social, o número de pessoas que puderam ir até a saída do prédio para se despedir dos astronautas foi limitado. Na plataforma de lançamento, os astronautas subiram até a Sala Branca, um espaço selado e esterilizado logo antes da entrada da espaçonave. Este foi, essencialmente, o último lugar do planeta pelo qual os astronautas passaram antes de embarcarem na cápsula Crew Dragon. Quem entrou primeiro na espaçonave foi o comandante Douglas Hurley. Em seguida, sentando à direta do comandante, Robert Behnken entrou na cápsula. Com a dupla lá dentro, as equipes técnicas realizaram mais uma série de checagens de comunicação e vazamentos. Os próximo passos foram a reclinação dos assentos dos astronautas para “posição de lançamento”, que facilita o acesso aos painéis de navegação da cápsula, o fechamento da escotilha da espaçonave e a retração da plataforma de acesso. Antes de dar continuidade às etapas dos preparativos para o lançamento, as equipes monitoraram o clima da região do Centro Espacial Kennedy minuto a minuto. Isso foi necessário porque as chances de o lançamento ser cancelado, novamente, por conta de condições climáticas desfavoráveis era de pelo menos 50% e as condições pareciam piorar durante os preparativos. Após o “ok” das equipes em relação às condições climáticas – que veio quando a probabilidade de condições favoráveis subiu para 70% – começou a etapa de abastecer o foguete com propulsores (oxigênio líquido e querosene refinado e especial para foguetes). Enquanto isso acontecia, os astronautas ativaram o sistema de escape da Crew Dragon (LES, na sigla em inglês), que é uma medida de segurança caso ocorresse alguma complicação durante o lançamento ou voo do foguete Falcon 9. Por meio desse sistema, a cápsula é equipada com oito motores SuperDraco, que são capazes de separar a espaçonave do foguete e carregá-la até uma área segura para os astronautas pousarem. Após o 2º estágio do abastecimento do foguete com os propulsores, a um minuto do lançamento, chegou o momento da contagem regressiva final.
3, 2, 1…lançar!
Exatamente às 16h22, os motores do foguete Falcon 9 foram acionados no Complexo 39A do Centro Espacial Kennedy da NASA, lançando os astronautas Douglas Hurley e Robert Behnken céu afora a partir da costa da Flórida. No momento do lançamento, segundo a NASA, a Estação Espacial Internacional (EEI) passava sobre a costa da Carolina do Norte, no Oceano Atlântico, a 417 km de altitude. Um minuto depois, a espaçonave atingiu a velocidade supersônica e o ponto “Max Q”, considerado o pico da exigência mecânica sobre o foguete. Em seguida, o primeiro “nível” dos motores do foguete, com nove motores Merlin, desligaram e foram desacoplados da espaçonave. O segundo “nível”, então, foi acionado para continuar carregando a cápsula Crew Dragon até a órbita do planeta. Após 12 minutos do lançamento, a cápsula se separou do foguete ao atingir a órbita. Esse ponto marca o momento em que a Crew Dragon e os astronautas Hurley e Behnken chegaram oficialmente ao espaço. Até a EEI, são 19 horas de viagem espacial. “Foi incrível. Agradecemos todo o trabalho. Obrigado pela viagem ao espaço”, disse a tripulação da Crew Dragon. O evento foi acompanhado pelo presidente dos EUA, Donald Trump, que estava no Centro Espacial. A cápsula Crew Dragon foi projetada com dois modos: automático e manual. Durante duas partes do trajeto até a estação espacial, os astronautas vão pilotá-la manualmente para testar sua dirigibilidade. Isso também é uma medida de segurança, em caso de complicações com o piloto automático. Para alcançar a EEI e se acoplar à estrutura, a espaçonave irá realizar uma série de manobras. Assim que a cápsula Crew Dragon chegar à estação espacial – previsto para este domingo (31), às 11h30 (horário de Brasília) – Behnken e Hurley vão se juntar ao astronauta Chris Cassidy, da NASA, e aos cosmonautas russos Anatoly Ivanishin e Ivan Vagner. A princípio, a NASA tinha planejado para a dupla passar algumas semanas na estação, caso o lançamento tivesse ocorrido em 2017. Só que seis meses atrás, a agência norte-americana decidiu estender a estadia de Behnken e Hurley na EEI e informou que vai decidir sobre o retorno dos dois enquanto eles estiverem no espaço. Por isso, é provável que a dupla passe alguns meses por lá.
E agora?
Assim que a dupla de astronautas retornarem ao nosso planeta, a SpaceX e a NASA vão trabalhar para tornar viagens espaciais algo rotineiro. Afinal, esse é também o objetivo do Programa de Tripulação Comercial. A empresa de Elon Musk e a agência norte-americana vão se debruçar sobre todos os dados compilados da missão espacial Demo-2 e usá-los para garantir que a Crew Dragon realize voos até a EEI com frequência. A ideia é que, após o retorno dos astronautas, a próxima missão espacial da cápsula Crew Dragon demore apenas alguns meses para acontecer. E dessa vez a espaçonave vai levar quatro astronautas a bordo: os norte-americanos Victor Glover, Mike Hopkins, Shannon Walker (esses três, da NASA) e o japonês Soichi Noguchi. O objetivo dos próximos passos é pavimentar uma nova era espacial, em que será rotineiro transportar pessoas até a EEI. Neste sábado, NASA e SpaceX deram um largo passo em direção à aviação comercial espacial, que pode estar mais próxima do que nunca de se tornar realidade. Fontes: NASA e SpaceX