Não há outra maneira de descrevê-lo: David Fincher é um diretor de gênero. Mank, nomeado ao Globo de Ouro 2021, é um desvio temático na carreira do diretor que decide explorar a essência de Hollywood em toda sua glória e decadência. Se você não está familiarizado com sua filmografia, Fincher foi responsável por alçar o thriller a outro patamar nos anos 2000 e também na década passada com longas como Zodíaco (2007) e Garota Exemplar (2014). Sua nova empreitada, Mank, leva a metalinguagem além do esperado nos quesitos técnicos, tudo sem perder as características que o consagraram como um dos grandes diretores. Desta vez, no entanto, com uma relação pessoal atribuída ao projeto.

Sinopse

Roteirizado por Jack Fincher, pai do diretor, e situado na década de 30, Mank acompanha a vida de Herman J. Mankiewicz (Gary Oldman), co-escritor de Cidadão Kane. Embora o filme se dedique pouco a evidenciar o processo de concepção do longa, o roteiro segue caminhos tortuosos para tentar formar um perfil do personagem-título e, ao mesmo tempo, dar vida aos personagens secundários que ficaram à margem da história naqueles anos, ou então que utilizaram seu poder na indústria para envergar a opinião pública, e mostrar uma Hollywood inexistente nos dias de hoje.   Acamado após um acidente, Mank conta com auxílio de Rita Alexander (Lily Collins), uma jovem secretária, para redigir a trama pela qual foi contratado a escrever, custeado então pelo prodígio Orson Welles (Tom Burke). Em suas duas horas de duração, com a utilização de flashbacks para tentar ampliar os horizontes da narrativa, alguns parâmetros do cotidiano do personagem são evidenciados, como a personalidade ligada ao vício (jogos e bebida alcoólica) e a vida política aflorada, além da sua relação com a atriz Marion Davies (Amanda Seyfried). Apesar de não ser um filme típico do diretor, ainda é possível notar resquícios da direção clínica que o levaram ao estrelato, seja com o ritmo adequado da narrativa pontuado pela edição de seu colaborador de longa data Kirk Baxter, ou pela atenção aos detalhes ao simular uma estética de obras produzidos nos anos 30 e 40.

Trajetória até o Globo de Ouro

Poucos felizardos — no caso, grande parte da crítica especializada — tiveram acesso ao filme alguns dias antes de sua estreia oficial na Netflix, datada para 19 de novembro de 2020. Contudo, quando o embargo caiu, houve um consenso entre os profissionais da mídia que se tratava de uma obra a ser vista e considerada aos prêmios. As notas recebidas em portais de crítica comprovam a eficácia de Mank. No Metacritic, dedicado à avaliação de jogos, filmes, livros, etc, o longa recebeu 6,1 como nota pública. Em sites voltados apenas para cinema e TV, como o Letterboxd e IMDb, o filme recebeu, respectivamente, 3,5 (5 é a maior nota) e 7,1 (com a nota máxima sendo 10). Já no Rotten Tomatoes, Mank arrecadou mais de 1.000 avaliações públicas, fechando com 61%, ao passo que a crítica especializada totalizou 341 análises, somando 83% de aprovação.

Indicações e aposta

Por se tratar de um filme falando sobre os bastidores de estúdios de cinema e mesquinharias que envolviam os egos dos poderosos da época, Mank surpreendeu ao receber tantas indicações ao Globo de Ouro 2021. São seis ao total, entre elas:

Melhor filme de drama: MankMelhor performance por um ator em filme de drama: Gary Oldman Melhor atriz coadjuvante: Amanda SeyfriedMelhor diretor: David FincherMelhor roteiro: Jack FincherMelhor trilha sonora: Trent Reznor e Atticus Ross

Logo no início do projeto, Mank já era um filme que dava o que falar. Duas coisas poderiam justificar o hype dos fãs: Cidadão Kane (1941) e David Fincher. Não é de hoje que Cidadão Kane tem estado na boca das pessoas, o longa da década de 40 é considerado um dos maiores filmes da história do cinema, fora que rendeu a Welles e Makiewicz o prêmio de Melhor Roteiro Original no Oscar de 1942. E, para ficar melhor ainda, David Fincher havia sido cotado para capitanear o filme, logo, todas as expectativas foram lá em cima. Contudo, Mank bate de frente com The Father, Promising Young Woman, Os 7 de Chicago e Nomadland — o último com destaque no circuito de festivais pelos quais passou e favorito ao Oscar 2021. Outra categoria que Mank poderia levar a melhor seria o prêmio para melhor direção. Fincher não é principiante nesta indicação, sendo o vencedor em 2011 por A Rede Social além de concorrer também em 2015 e 2009, tanto por Garota Exemplar quanto por O Curioso Caso de Benjamin Button. Novamente, Nomadland vem o mais rápido possível com a indicação da diretora Chloé Zhao, Regina King representa One Night in Miami, Emerald Fennell por Promising Young Woman e Aaron Sorkin pelo feito em Os 7 de Chicago. A parceria com os compositores Trent Reznor e Atticus Ross, que resultou num Oscar para a dupla em 2012 pelo trabalho realizado em A Rede Social, pode render novos frutos nessa edição do Golden Globes 2021. Os compositores, que trabalharam em outras produções de David Fincher — compuseram também a trilha de Millennium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres e Garota Exemplar — sempre trouxeram uma atmosfera enérgica e tensa para cada longa. Em Mank, os compositores embarcaram de cabeça na temática da velha Hollywood, se reinventando a cada faixa.  As apostas nesta categoria ficam por conta do trabalho realizado por Ludwig Göransson na trilha de Tenet e, bom, os próprios Trent Reznor e Atticus Ross, em conjunto com Jon Batiste, na composição original de Soul. A dupla não é novata no cenário de trilhas, mas o trabalho solo de Ludwig Gorranson foi o suficiente para atraí-lo para The Mandalorian e jogá-lo no colo de Christopher Nolan, o que evidencia o alcance artístico do músico. Mank está disponível na Netflix. Caso tenha ficado interessado nos filmes que darão as caras no festival, não deixe de conferir o Especial Golden Globe 2021 feito pelo Showmetech para conferir outros favoritos.

Globo de Ouro 2021  Mank retrata bastidores do cinema nos anos 30 - 45Globo de Ouro 2021  Mank retrata bastidores do cinema nos anos 30 - 58Globo de Ouro 2021  Mank retrata bastidores do cinema nos anos 30 - 38