A última temporada de Game of Thrones foi marcante, me mostrou como um seriado pode ter público, mesmo sendo péssimo. Fonte de diversos traumas e discussões sobre a necessidade de saber quando parar, o seriado virou uma piada na minha vida. E se você assistiu ao mesmo seriado que eu, por mais de 5 anos, sabe que muito dos arcos finais foram simplesmente horríveis. Esse foi um dos motivos pelos quais sempre aguardei a adaptação de Fogo e Sangue, livro base do seriado A Casa de Dragão, que foi ao ar no último domingo (21) nas plataformas da HBO. Não porque gosto da família Targaryen — pelo contrário, sempre desgostei de todos, mas sim porque queria assistir algo além de Jon Snow e Daenerys. Com diversas dúvidas, que julgo serem as mesmas dos fãs de GoT com bom-senso, assisti ao episódio. Enquanto assistia, pensei: O seriado redimirá a última temporada? Haverá um personagem sem graça, mas queridinho pelo público igual o Jon Snow? O CGI compensará o roteiro? E a resposta é o que conferiremos hoje, juntos. Continue lendo!
Um resumo do primeiro episódio
Para você que não lembra do primeiro episódio, faremos um breve resumo de A Casa do Dragão.
O episódio inicial abre com uma informação importante: Viserys (Paddy Considine) apenas se tornou rei porque o rei anterior não possuía filhos homens na linhagem de sucessão. Assim, o sobrinho do rei tomou posse do trono e se tornou rei legítimo. Essa regra sucessória é seguida à risca em Westeros e sempre respeitada no mundo de Game of Thrones, sendo apenas descartada quando o filho homem é bastardo.
Sabendo dessa informação, a história avança bastante até chegar em Viserys, agora um senhor de idade, com uma filha, a princesa Rhaenyra (Milly Alcock) e sua esposa, grávida. Essa gravidez é de risco, pois a própria rainha sugere que seja sua última — considerando que nesse tempo seus filhos morreram ou nasceram mortos.
O rei está preocupado com isso, mas não com a mulher propriamente dita. Isso porque Viserys sabe: se ele não tiver um filho, quem irá suceder sua posição de rei será Daemon (Matt Smith), seu irmão mais novo. E agora você me pegunta: por que Daemon não pode assumir o trono?
Não é uma opinião, mas acredito que Daemon não seja lá muito confiável ou querido no mundo de A Casa do Dragão. Durante o conselho, a mão do rei, Otto Hightower (Rhys Ifans) — sobre o qual já comentaremos — relata todos os motivos pelos quais o irmão do rei não pode assumir um cargo de poder. Nesse mesmo momento, descobrimos que Daemon, sem poder exercer nenhuma outra função e sendo um dos melhores cavaleiros, fundou Os Mantos Dourados — a patrulha da Cidade Real.
Ah, sim, essa discussão acontece porque Daemon, junto de seu exército, marcha sobre a Cidade Real, capturando todos os criminosos que encontrar. Realizando um verdadeiro massacre, Daemon confere pena instantânea aos fugitivos da lei, cortando seus membros, com decapitações e todas as torturas que você conseguiu imaginar. A cena é recheada de violência desnecessária, seguindo um padrão GoT de qualidade.
Confusão vem, confusão vai, e o Rei Viserys resolve que terá um torneio no dia do trabalho de parto de sua esposa. Nesse dia, de fato a rainha começa o parto, mas é cheio de complicações. O Grande Meistre, responsável por ela, reconhece o risco do nascimento e avisa ao Rei: ou ele terá de salvar um, ou sacrificar os dois.
Tomando pela decisão de manter seu filho vivo, o Rei Viserys pede ao Meistre pelo procedimento do parto. Não preciso também falar como a cena é cheia de violência, aflição e torna Viserys mais próximo de outro personagem com o mesmo nome, não?
E claro, tanto a mãe quanto o filho morrem, mas o seriado toma o cuidado de mencionar sobre morte de uma forma delicada. Quando aparece o corpo da rainha embalado em mantos para seu funeral aos pés do dragão, e depois de seu filho, o seriado muda, sendo mais atencioso à morte da Targaryen que todas as outras pessoas.
E para complicar a situação de luto, Viserys fica sabendo que seu irmão Daemon está dando trabalho, enfrentando lordes e o pior de tudo: causando com os abusos de poder. A principal discussão é motivada, novamente, por Otto Hightower, pois o príncipe resolveu que seria melhor comemorar em uma “Casa de Prazeres” sua vida, do que prestar colo ao irmão. Isso é refletido em algumas discussões na frente do conselho e toda lavagem de roupa suja da família.
Outra cena importante é também quando Otto, o que está plantando discussões entre os irmãos, pede que sua filha Alicent (Olivia Coocke) visite o rei. É interessante ver como Alicent, amiga da princesa no início do episódio, vai mudando sua posição, ficando cada vez mais próxima do rei e distante da amiga.
Sem herdeiro e sem esposa, Viserys se vê com uma única opção. Em meio ao desespero e aflições, ele resolve coroar sua única filha, Rhaenyra, como futura rainha. Nessa medida de coroar a filha, Viserys serve o easter egg mais aguardado dos fãs e que foi sinceramente um incômodo para mim. O rei confessa à filha sobre a canção do Gelo e do Fogo, que será a salvação dos homens durante o inverno.
A cena final do episódio é com Rhaenyra, coroada e reconhecida perante o rei e os lordes dos Sete Reinos. É notável que alguns lordes não concordam com a escolha, afinal, é a linhagem da mulher e isso não conta nada. Podemos ver, nessa cenas, antepassados como os Stark e Baratheon sendo forçados por Viserys a aceitar Rhaenyra.
Será que precisa de fanservice?
Game of Thrones sempre foi conhecido pelas cenas feitas para agradar à maioria do público, sem manter a coesão. Para mim, o exemplo mais clássico de cena feita para agradar o público foi o reconhecimento apressado de Jon Snow como filho legítimo de Rhaegar e Lyanna. As leis rígidas de Westeros são parte da graça das primeiras temporadas, mas ao final, a graça dos produtores foi abusar nas cenas de fanservice. E essa flexibilização de regras e leis para o bem de uma parcela do público — aquela parte preguiçosa, cansa demais. É desanimador ver uma história com a cena política tão bem construída ser jogada fora assim. No momento, o meu maior medo é que A Casa do Dragão vá para o mesmo caminho. Não desejo ver um seriado original, com tanto potencial, ser jogado ao lixo para agradar o público com decisões preguiçosas e sem sentido. Quando aconteceu a cena, sim, a cena da A Canção do Gelo e do Fogo, já fiquei um pouco incomodada, assistindo com atenção e pensando no plot principal da Dança dos Dragões, tentando compreender o que será importante sobre a profecia. De início, não encontrei uma ligação além da necessidade de vincular os dois seriados. Encaixar uma história mais de 100 anos antes com uma minuscula parte de GoT é dizer que A Casa do Dragão não se sustenta por si própria, e precisará viver das migalhas oferecidas ao público. O mesmo acontece quando Rhaenyra diz “dracarys”. Parece legal, mas a repetição de referência é sinônimo de uma série vazia, sem conteúdo próprio. Esses recursos, por enquanto, são inofensivos, mas se se tornarem algo comum, prejudicarão o desenvolvimento. Quero que A Casa do Dragão seja o que me venderam: um spin-off de Game of Thrones, com uma história nova, com personagens novos. Não quero a representação ou menções de temas, ou personagens que não aguento mais (e sim, estou falando novamente do Jon Snow).
Mais dragão, mais diversão
A promessa do alto da temporada é a Dança dos Dragões, guerra civil dos Targaryen. Quero cenas e construções sobre como os combates pela coroa acabaram com os dragões e, consequentemente, com o poder da família. O primeiro episódio mostrou pouco dragão. Ao início temos algumas cenas de voo da Rhaenyra e seu dragão. No decorrer do episódio, outra cena no funeral da sua mãe. Mas, por ser um episódio de introdução, o que esperava eram pelo menos 3 dragões. Parte da introdução de um mundo mágico é mostrar seu potencial, cenas das criaturas e interações — mostrando a diferença entre os seriados. A escassez de A Casa do Dragão lembrou muito mais uma temporada de GoT, que um seriado chamado de A Casa do Dragão. Espero mesmo que, no próximo episódio, haja mais cenas, mais dragões e menos CGI de fogo feio. Inclusive, o fogo do funeral da mãe da Rhaenyra foi feio. Parecia não se encaixar com a cena, infelizmente. HBO, escute meus pedidos: mais dragões, menos cenas de sexo.
As brigas políticas da Cidade Real
Falando sério, o meu momento favorito nas histórias de Game of Thrones era o cenário político. Por temporadas acompanhamos Mindinho armando guerras nos bastidores, o desenrolar de alianças e traições. E a graça de um novo seriado é a exploração de um novo cenário.
Em House of the Dragon, os contextos da família Targaryen e de poder são diferentes. Não é uma família sem dinheiro, pelo contrário: eles são temidos e são a família mais influente de toda Westeros. Isso é apresentado em diversos momentos do episódio e é bem colocado. Quando o Rei Viserys aparece, as pessoas o temem, demonstram respeito e medo.
A graça é que, mesmo assim, não são imunes às armações políticas de outras famílias, fofocas e boatos. Fomos apresentados à faísca da família Hightower e a uma possível promessa de serem os próximos a derrubar um pouco da posição de Rhaenyra, mas tudo superficialmente, sem mostrar demais.
O papel de agente duplo é dado a dois personagens: Alicent e Otto. Devo já mencionar que a filha dos Hightower já me conquistou em parte: a posição dela, próxima da princesa, com outros cavaleiros – que supostamente sabem do futuro, e melhor ainda a desenvoltura do golpe que o rei está sujeito, é o destaque do episódio.
Além de dragão, a maior graça de GoT estava no jogo político, chamado literalmente de “jogo do trono”. Não há graça em uma história medieval onde a posição do rei é tão importante se não houver a conspiração de outras famílias, a discussão e fofoca, em busca da queda daqueles que se julgam reis e rainhas.
Por enquanto a minha esperança com A Casa do Dragão está estável. Há alguns defeitos de CGI, e algumas atuações que pecam no momento crucial. Porém, espero que no próximo domingo (28) tenhamos mais dragões e mais fofocas do meio político.
Você pode conferir easter-eggs do primeiro episódio!Veja também:
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