Jamie Spears e o processo de custódia
O documentário se inicia pela carreira mirim de Britney Spears, enfatizando o quanto a cantora da pequena cidade de Kentwood em Loisiana precisou do sacrifício dos pais para que seu talento fosse reconhecido na “cidade grande”. E é aí que estaria a total ausência de seu pai, Jamie Spears. Empresárias da fase em que Britney Spears apresentou o programa O Clube do Mickey relatam que seu pai, Jamie Spears nunca apareceu e sua mãe, Lynne Spears tampouco, saindo e entrando de reabilitações para tratar o vício de álcool e drogas. Assim, sua figura materna acabou sendo uma de suas empresárias, Felicia Culotta, entrevistada no “Framing Britney Spears” e completamente afastada do contato da cantora após a custódia em 2012. Felicia é uma das entrevistadas que declara, incrédula, não compreender como uma artista tão centrada, focada e dedicada pode ter perdido o controle sobre sua própria vida e carreira. A degringolada estaria relacionada ao casamento com o bailarino Kevin Federline, pai de seus filhos, Sean e Jayden. Primeiro veio o divórcio, depois a perda de custódia dos filhos, inúmeros escândalos e barracos que ganharam a capa de revistas até que o pai, Jamie Spears entrou em cena, questionamando totalmente a sanidade mental da filha e assumindo 100% o controle de tudo relacionado a ela como marco. É importante aqui explicar o que é e significa, juridicamente, uma custódia com tutoria legal. Mais comum para pessoas idosas que já não conseguem responder por seus atos, a custódia com tutoria legal significa que tudo que uma pessoa fizer será responsabilidade de outrém. No caso de Britney Spears ela engloba os lucros e dividendos de sua carreira e os produtos que levam seu nome. Jamie Spears assumiu a tutoria legal de cerca de US$1.3 bilhão em ativos, que vão desde o lucro de shows, direitos autorais até venda de produtos como perfumes, roupas entre outros que levam o nome da diva. Sendo assim, Britney teria direito a apenas e nada mais US$9.000,00 dólares semanais para suas despesas pessoais e todo restante é administrado pelo pai. Desde o começo ajustificativa de Jamie é de preservação do patrimônio para que seus netos Sean e Jayden possam um dia usufruir dos lucros da mãe. Mas acusações de agressão dos netos por parte do avô também foram recorrentes nos últimos anos, ajudando a polemizar ainda mais toda a situação.
A misogenia de Justin Timberlake
No início dos anos 2000 a realeza pop tinha como príncipe e princesa o casal Justin Timberlake, então membro da boyband ‘NSYNC, ao lado de Britney Spears. Em uma reviravolta típica das séries americanas enlatadas, que se tornou prato-cheio para os tabloides, Britney teria supostamente traído Justin. Wesley Morris, um dos jornalistas entrevistados em “Framing Britney Spears” resume como a imprensa os tratou, de acordo com os esteriótipos dos teen movies americanos. A acusação do documentário é a de que Justin Timberlake se aproveitou da narrativa de homem traído para alavancar sua carreira solo após a saída do grupo ‘NSYNC. Ele não apenas apareceu em capas de revistas como GQ descrevendo Britney com adjetivos maliciosos, como insistia em ter transado com ela, enquanto ela mantinha a versão de que ainda era virgem. Não demorou para o tribunal da internet julgar Justin de misógino por suas atitudes machistas para com a cantora, exigindo uma retratação pública após a exibição do documentário. Hoje com 40 anos, pai de 2 filhos, casado com a atriz Jessica Biel e com uma sólida carreira de produtor somada a de cantor, Justin até o momento não se pronunciou sobre as acusações de misogenia. Atualização Sábado 12/02/2021 Na tarde deste sábado, Justin Timberlake se pronunciou oficialmente através de sua conta no Instagram. O cantor não apenas se desculpou com a ex-namorada Britney Spears por conta das acusações de misogenia, como também pediu perdão a Janet Jackson por declarações racistas e sexistas. No show do intervalo do SuperBowl de 2004, durante uma coreografia protagonizada pelos artistas, Justin puxou o top de Janet expondo um de seus seios. A versão da cantora é a de que foi um acidente, pois originalmente era para que apenas o forro de seu corpete aparecesse com a manobra durante a coreografia. O que se seguiu foi o reflexo do racismo e sexismo da indústria fonográfica americana, pois enquanto Justin Timberlake teve sua carreira imaculada e em nenhum momento defendeu Janet do ocorrido, a cantora foi condenada pelo público e mídia conservadora norte americana, além de ser banida do Grammy e de ter seus vídeos exibidos na MTV. Com o lançamento de “Framing Britney Spears“, além das acusações de misogenia contra Britney virem a tona, os fãs de Janet Jackson também estavam esperando um pedido de desculpas de Justin Timberlake, que finalmente ocorreu depois de 17 anos.
O “mea-culpa” da imprensa sensacionalista
Um dos pontos mais acusatórios de “Framing Britney Spears“, além de toda a questão familiar da custódia, certamente é o quanto a imprensa foi um catalisador para diversos dos surtos da estrela. Ao longo do documentário, paparazzis são entrevistados e a normalidade com a qual eles narram as filmagens e fotografias realizadas em momentos em que claramente Britney estava tendo um surto psicótico, sem exibir qualquer sinal de empatia, com aquele ar de “esse é meu trabalho, quanto mais ela surtar melhor”, é de embrulhar o estômago. Alguns veículos publicaram mensagens de apoio a Britney, expurgando um “mea-culpa” pelo ocorrido com a diva. Uma delas foi a Glamour, que publicou um editorial afirmando que “Todos somos culpados pelo que aconteceu com Britney”, no sentido de que toda a indústria de celebridades teve sua parcela no calvário sofrido por ela.
Os fãs clamam e a hashtag sobe: #FreeBritney
Quem nunca desistiu de Britney, deixou de amá-la e apoia-la, estes são o seu fiel séquito de fãs. Nestes 12 anos de custódia por parte de seu pai, não houve um dia se quer que algum fã deixasse de conclamar #FreeBritney em algum canto do planeta e da web. E esta semana em que a audiência de revogação culminou com o lançamento do documentário “Framing Britney Spears”, eles estão em polvorosa. A audiência em que Britney e seus advogados tentam revogar a custódia de seu pai ocorreu nesta quinta feira, 11 de fevereiro de 2021, às 17h horário de Brasília. E, obviamente, os fãs se mobilizam para que o assunto e a tag ficasse entre os assunto mais comentados no Twitter. Depois de pouco mais de duas horas de espera, a sentença saiu e, mesmo que Jamie Spears não tenha perdido totalmente a custódia legal sobre a filha, uma pequena vitória surgiu no horizonte. A decisão da corte, favorável a Britney, colocou um fundo de investimento bancário denominado Bessemer Trust para que administrasse a fortuna da contora com igual poder de decisão que Jamie Spears. O fundo foi indicado no processo por Britney e, assim, representará diretamente seu desejo, afinal, uma coisa é seu pai controlando seu dinheiro e sua vida, a outra é uma instituição bancária, neutra, isenta e especialista em finanças, administrando sua fortuna. Além disso, especula-se que, juridicamente, quando um banco atua como responsável pela custódia legal dos bens de uma pessoa, a tendência é que gradualmente eles dêem cada vez mais poder ao dono daquele dinheiro, que neste caso é a Britney, até que não seja mais necessária este controle financeiro e a custódia legal é devolvida, desde que ela prove que não precisa mais de ajuda para isto. Para quem, desde a infância, deu a vida pela música pop, ter a plena liberdade aos 39 anos pode enfim se tornar realidade. #FreeBritney Fontes: BBC, Glamour, HITC