Dirigido pelo aclamado diretor Steven Spielberg e estrelado por atores de talento e renome, como Meryl Streep, Tom Hanks e Bob Odenkirk (de Better Call Saul e Breaking Bad), o filme conta a história real do jornal The Washington Post que, no auge da Guerra do Vietnã, se viu num dilema: obedecer às ordens do governo ou cumprir o seu papel social de informar a população sobre a verdade? Veja nos próximos parágrafos o que achamos de The Post: A Guerra Secreta.
O enredo
O filme traz à tona um recorte histórico bem preciso do início da década de 60. O jornal The Washington Post, que à época era apenas um veículo regional, estava se preparando para se tornar um veículo nacional e também abrir o seu capital na bolsa de valores. Ou seja, um período crucial em sua trajetória. Nesse ínterim, o seu principal concorrente, o The New York Times, têm acesso a documentos ultra-secretos do governo norte-americano que comprovam que o presidente Richard Nixon sabia, desde o início, que a Guerra do Vietnã não poderia ser vencida e, mesmo assim, manda milhares de jovens para a morte certa, sem falar na sangria de dinheiro e recursos que um conflito bélico causa.
Após divulgar algumas páginas dos documentos e desmascarar as mentiras de Nixon, o The New York Times é proibido pelo governo de publicar novos dossiês. Nesse meio tempo, os repórteres do The Washington Post também conseguem todos os documentos na íntegra e se veem no difícil dilema: publicar os documentos, mesmo que isso signifique prejuízo financeiro ou ceder à censura e à pressão dos acionistas e não desmascarar as mentiras de Nixon? Liberdade de imprensa ou segurança financeira?
Três pilares
O filme é centrado em três personagens principais: Katharine Graham (Meryl Streep), uma viúva que herdou o jornal de seu marido; Ben Bradlee (Tom Hanks), o editor-chefe do jornal e Robert McNamara (Bruce Greenwood), Secretário de Defesa e que defende a continuidade da guerra a todo custo. Cada um dos personagens são personificações de elementos maiores, no caso, a Família, a Mídia e o Estado, respectivamente. Toda a história e seus conflitos passam por esses três personagens. Bem Bradlee é um defensor ferrenho da liberdade de imprensa e deseja a todo custo que os documentos sejam publicados, custe o que custar. Já Robert McNamara se vale de sua forte influência no governo e de sua amizade com Katharine Graham para manter seus segredos na escuridão e, por fim, a personagem de Meryl Streep se vê entre a cruz e a espada, querendo manter o jornal em ascensão mas sem ferir a confiança de seu público e nem de seus acionistas.
Assim, o roteiro passeia com maestria por essas três esferas. É digno de nota que The Post: A Guerra Secreta não é um filme para todo mundo, dado que temos aqui praticamente 120 minutos de diálogo. Entretanto, quem se interessar por esse recorte histórico, encontra um roteiro competente e que começa bem frio e vai, aos poucos, esquentando e prendendo a atenção do espectador. Já na passagem do segundo para o terceiro ato é praticamente impossível tirar os olhos da tela, tamanha a tensão conseguida pelo roteiro.
Atuações e direção
The Post: A Guerra Secreta conta com um elenco privilegiado. Temos aqui atores premiados como os já citados Tom Hanks e Meryl Streep, além de nomes como Bob Odenkirk (o eterno Saul, de Breaking Bad e Better Call Saul), Sarah Paulson (12 Anos de Escravidão) e Jesse Plemons (Black Mirror – USS Calister) e Michael Stulhbarg (Me Chame Pelo Seu Nome e A Forma da Água; esse cara está em todos os grandes filmes recentes).
Muito por conta do roteiro, as atuações de Tom Hanks e Meryl Streep estão bem contidas. Mas há alguns momentos do filme em que podemos ver o talento nato de ambos. Meryl Streep, que foi indicada ao Oscar, aparece sempre como uma mulher vulnerável, que precisa ouvir o conselho de outros homens sobre como dirigir o seu jornal. Além disso, o seu olhar sempre lacrimoso mostra uma mulher frágil e bastante preocupada com a família e os amigos. Porém, quando ela realmente precisa tomar as rédeas da situação, é incrível como ela se impõe e “engole” os outros personagens, roubando completamente a cena. Achei sua indicação merecida, embora ache que ela não deva ganhar. E Steven Spielberg na direção não precisa provar mais nada a ninguém. Ele conta essa história sem pressa e sem firulas. O que notei de interessante a respeito de sua direção é que ele usa muito planos plongée, rebaixando os personagens em cena e, mostrando que mesmo que eles fossem pessoas importantes na sociedade, a causa pela qual eles estavam trabalhando era muito maior do que eles.
Há ainda uma determinada cena em que os três personagens principais estão discutindo ao telefone e que a direção de Spielberg se mostra sublime, sempre com movimentos de câmera ágeis e precisos e uma montagem certeira e que transmite a urgência da situação.
Chances no Oscar
Não acho que The Post: A Guerra Secreta tenha muitas chances no Oscar. Se, no Globo de Ouro, onde foi indicado em seis categorias, ele perdeu em todas, imagine no Oscar, onde ele só foi indicado duas vezes. Na categoria Melhor Filme ele concorre com títulos muito mais proeminentes, como A Forma da Água (The Shape of Water) e Três Anúncios para um Crime (Three Billboards Outside Ebbing). E na categoria Melhor Atriz eu diria que a Meryl Streep só foi indicada por ser a Meryl Streep, todo ano ela é indicada, praticamente. Na edição 2018, ela concorre com atrizes que desempenharam papeis mais difíceis, como Sally Hawkins em A Forma da Água e Margot Robbie no excelente Eu, Tonya (I, Tonya, 2017). Portanto, não aposto as minhas fichas neste filme para o Oscar. https://www.youtube.com/watch?v=EIx6T_WXOT0