Antes dessa atual adaptação cinematográfica, a obra já havia sido transportada para as telonas em 1974, por Sidney Lumet. Essa releitura foi dirigida por Kenneth Branagh, que também faz o papel do protagonista da trama, de forma muito competente, diga-se de passagem. Antes de começar a crítica propriamente dita, devo dizer que eu não assisti ao filme de 1974 e também não li os livros de Agatha Christie. Portanto, meu julgamento a respeito desse filme vai se ater apenas ao conteúdo da obra atual, sem levar em consideração aspectos presentes nas obras anteriores.

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O enredo

Em Assassinato no Expresso do Oriente acompanhamos o detetive Hercule Poirot, que está no oriente solucionando mais um crime de forma brilhante. Para retornar para casa, ele embarca no trem expresso a convite do dono da empresa, que é seu amigo. No trem luxuoso, estão 14 passageiros, sem absolutamente nada em comum, apenas o fato de que precisam se deslocar de um local para outro. Eis que, no meio da viagem, uma forte nevasca impede que o trem prossiga seu trajeto. E, para completar, um dos passageiros é assassinado de forma misteriosa e, aparentemente, sem qualquer motivo. Assim, os 13 passageiros restantes são suspeitos do crime. E, como estão todos presos no trem, cabe a Hercule Poirot investigar cada um e descobrir quem é o assassino entre eles. A trama me lembra um pouco aquele famoso jogo de tabuleiro, Detetive, onde, através de algumas pistas, devemos descobrir quem é o assassino e qual arma ele utilizou. Mas enfim… já começo a divagar.

O protagonista 

Óbvio que não poderia deixar de falar sobre o protagonista da trama, Hercule Poirot (leia com sotaque), talvez o belga mais extravagante e excêntrico do mundo. O famoso detetive é peça-chave de 4 obras de Agatha, sendo Assassinato no Expresso do Oriente uma delas. Aqui ele é vivido pelo próprio diretor do filme, Kenneth Branagh, que faz um trabalho excelente na concepção do personagem. Absolutamente todos os aspectos são bem construídos: figurino, os trejeitos, o olhar rápido e atento e, sobretudo, o seu bigode extravagante e cuidadosamente simétrico. Hercule Poirot tem um talento ímpar para desvendar crimes. Isso porque seu cérebro observa muito bem os padrões à sua volta. Assim, a visão de Poirot é binária, dividindo-se apenas entre “Certo” e “Errado”, “Preto” e “Branco”.  Para se ter uma ideia de como Poirot gosta de padrões, no começo do filme, enquanto o personagem ainda está sendo apresentado, ele pisa em um cocô de cavalo. E fica desconfortável não pelo fato de ter sujado o calçado, mas sim de que agora o seu caminhar não é mais igual, já que a sola de um sapato está suja e a outra não. Para resolver isso, ele pisa propositalmente no cocô com o outro pé, só para deixar tudo igual.  Kenneth Branagh foi muito competente em construir um personagem extremamente singular. Gostei muito dos seus olhos, sempre atentos a cada detalhe, mas sem parecer um doido varrido; tudo soa de forma muito natural. 

O elenco 

Os demais personagens da trama são interpretados por um elenco de peso, com nomes como Johnny Depp, Michelle Pfeiffer, Judi Dench, Derek Jacobi, Josh Gad e outros.  E, em minha opinião, todos os atores fizeram um trabalho competente na interpretação de seus personagens. É claro que, devido ao tempo, é impossível se aprofundar em cada um deles. Alguns têm mais tempo de cena do que outros, mas todos têm o seu momento e contribuem de alguma forma para a resolução da trama. 

A direção

 Como já mencionei, Kenneth Branagh, além de interpretar o protagonista, também é o diretor do longa. E ele se mostrou tão bom diretor quanto ator. Me chamou a atenção os enquadramentos diferenciados que Kenneth usou. A câmera é sempre viva, está sempre se movimentando e passeando pelo trem e nos coloca em pontos de vista inusitados. Em determinada cena, o diretor filma tudo de cima e vai passeando pelos cômodos da locomotiva. Ainda no início do filme, para nos apresentar melhor o ambiente em que se passará a história, somos presenteados com um plano-sequência muito bem executado. E em outros momentos, nos sentimos como espiões, ouvindo conversas que não deveriam ser ouvidas.

A mixagem de som também foi cuidadosamente trabalhada. Quando estamos do lado de fora do trem, o som muda, fica mais ruidoso. Já quando estamos no interior da locomotiva, o áudio fica mais abafado, o que nos ajuda a se situar bem entre os dois ambientes. A trilha sonora, embora não seja destaque, também serve para compor a atmosfera das cenas. Em alguns momentos de tensão mais elevada, a trilha fica mais evidente. Já em outros, ela dá lugar ao silêncio absoluto, em especial quando Poirot está refletindo sobre a situação.

Conclusão

Enfim, O Assassinato no Expresso do Oriente é um filme bem competente em diversos aspectos: atuações, direção, design de produção, figurino, mixagem de som, roteiro, etc. O roteiro não deixa pontas soltas e vai revelando as informações aos poucos. Em minha opinião, no segundo ato ele é mais arrastado e em alguns momentos chega a ser um pouco monótono e cansativo, mas compensa isso com um terceiro ato instigante e que nos deixa refletindo.

Lembra que Poirot é um homem que consegue enxergar apenas “Certo” e “Errado”, “Preto” e ”Branco”? Ao fim do filme, e da resolução do problema, ele passa a enxergar tons de cinza, nuances na vida das pessoas e nos fatos. Em outras palavras, Hercule Poirot é mudado pelo assassinato no expresso do oriente. E, assim como ele, também devemos levar isso para a vida. Quase nunca as coisas são apenas “pretas” e “brancas”. Há muitas nuances, muitos tons de cinza e devemos levar isso em consideração antes de fazer qualquer tipo de julgamento. Ainda mais nós, que diferente de Poirot, temos a visão enviesada por muitos outros fatores. Assim, Asssassinato no Expresso do Oriente é um ótimo filme, tecnicamente perfeito e que se não é perfeito em seu roteiro, nos entrega um desfecho convincente e satisfatório.

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