O bitcoin na China e as restrições
Para quem não sabe ou não se lembra, cada unidade de uma criptomoeda é gerada através de um cálculo matemático complexo, que geralmente é realizado pelo poder de processamento de um computador. Esse processamento requer muita energia para ser feito, então o barateamento dos custos energéticos é uma das maiores prioridades dos indivíduos e das empresas que desejam minerar criptomoedas. Essa é uma das principais razões pelas quais as empresas escolhem países onde a energia é barata, como a Mongólia, o Cazaquistão e a China. Neste ano, calculou-se que 75% de toda a mineração de bitcoin – que consome tanta energia quanto todo o território dos Países Baixos – é feita na China, ou, pelo menos, estava sendo feita até o momento. Restrições ao comércio de bitcoin no gigante asiático não são novidade – em anos anteriores, proibições ao comércio de criptomoedas e até fechamento de bolsas locais ocorreram, como em 2017 e 2019, embora nunca banindo indivíduos de minerarem ou possuírem moedas virtuais. Agora, no entanto, a escala de controle e repressão do setor alcançou um novo patamar: em comunicado, o Comitê de Desenvolvimento e Estabilidade Financeira do Conselho de Estado da China disse que “derrubaria a mineração de bitcoin e a atividade comercial, prevenindo resolutamente a transferência de riscos individuais à sociedade”. Na prática, o que isso quer dizer é que o governo considera perigoso o comércio desregulado das moedas digitais, vendo isso como uma ameaça à economia. O comitê é encabeçado pelo vice premiê Liu He, que age como representante do presidente Xi Jinping nas questões econômicas do país. Além das questões financeiras, o governo chinês também tem outras preocupações em relação às criptomoedas, como a facilitação que elas representam para atividades ilegais, como contrabando, tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e evasão fiscal – uma preocupação que outros países, como os Estados Unidos, compartilham. Além disso, a questão energética também pesa. O fato da energia ser barata na China não mitiga os efeitos ambientais causados pela mineração, especialmente em áreas como a Mongólia Interior (província chinesa; não confundir com o país), onde o barateamento vem de minas de carvão. Com a grande porcentagem representada pelo país na mineração, a preocupação é válida, ainda mais quando a China planeja zerar as emissões de carbono até 2060 – a indústria das criptomoedas não é a única que preocupa o governo, mas seu crescimento justifica o susto.
Repercussões do anúncio
Embora não existam, na prática, medidas anunciadas para o controle da mineração de bitcoin, o sentimento dos mineradores de criptomoedas tem sido pouco esperançoso. De cara, o bitcoin desvalorizou 8% em menos de uma hora, chegando a 13% de queda até o domingo, 23 de maio – caindo até o valor de US$36 mil (aproximadamente R$191,5 mil). Ações de empresas também caíram: por exemplo, a BIT Mining (mineradora, queda de 23%) e a Huobi Technology (bolsa de criptomoedas, 22%). Além disso, empresas de mineração precisaram revisar seus planos: a HashCow, que detém as maiores fazendas de criptomoeda do mundo, informou neste sábado (22) que não venderia mais máquinas para clientes na China, reembolsando quem ainda não recebeu pedidos recentes, e a BIT.TOP não irá mais prestar serviços de mineração na China continental. Especialistas antecipam a mudança dessas bases de produção de moedas digitais para países próximos, como Mongólia, Afeganistão e Cazaquistão. Curiosamente, o governo chinês vem tentando emplacar sua própria moeda, o yuan digital, ao mesmo tempo em que condena outras criptomoedas. As críticas e repressões do governo são mais focadas em grandes operações e empresas e menos nos usuários que mineram por conta própria – esses, inclusive, podem dormir tranquilos por enquanto -, mas ainda é um fato um pouco irônico. A China não é o primeiro e nem será o último país a se preocupar com as implicações do mercado de criptomoedas no mundo, então é fato que podemos esperar mais notícias como essa no futuro. Para essa e mais notícias sobre o bitcoin e criptomoedas no geral, fique de olho aqui, no Showmetech Corporate. Fontes: Ars Technica | CNN | Reuters | The Next Web