E as expectativas são ainda mais astronômicas dado o sucesso de público e crítica da Mulher Maravilha de Patty Jenkins, do estúdio rival DC Entertainment. Some a isso o fato de sua estrela principal, Brie Larson, ser uma vencedora do Oscar de Melhor Atriz, Capitã Marvel tem o triplo desafio de honrar os últimos filmes da MCU, provando que um filme liderado por uma mulher pode sim fazer o dinheiro da empresa, e, de quebra, competir com um dos maiores sucessos da DC. Mas mesmo sem o desafio de quebrar barreiras de representação para o MCU, Capitã Marvel está enfrentando grandes expectativas por causa dos filmes do MCU que o precederam.

Cronologia de sucesso

A começar por Thor: Ragnarok, que trouxe uma nova irreverência para a franquia, ao mesmo tempo em que alinha os personagens Thor, Hulk e Doutor Estranho para os Vingadores: Guerra Infinita. Logo depois veio Pantera Negra, no qual o diretor Ryan Coogler levou os fãs da Marvel para a história e cultura da nação africana de Wakanda, quebrando recordes de bilheteria e dando à Marvel o primeiro filme vencedor do Oscar. Essa cronologia se encaixou perfeitamente para a proposta do que viria a seguir: Vingadores: Guerra Infinita, que uniu a todos 18 filmes anteriores, faturando US$ 2 bilhões em todo o mundo e, pra variar, erradicou metade da população do universo. Até mesmo Homem-Formiga e a Vespa, o primeiro filme da Marvel com uma personagem feminina em seu título, parecia estar fazendo fila para as expectativas de Capitã Marvel, e para o filme divisor de águas, que será o próximo filme dos Vingadores. Depois de tudo isso, Capitã Marvel está na posição nada invejável de ter que introduzir um novo personagem ao MCU, traçar sua história de origem, associá-la à atual linha do MCU, criar backstories (“histórias de fundo”, em tradução livre) para vários personagens previamente estabelecidos e configurar até mesmo elementos mais significativos para Vingadores: Ultimato. Mas Capitã Marvel geralmente suporta o peso dessas expectativas. O filme se eleva à ocasião com performances fortes e com a disposição de seus diretores de desacelerar e levar sua história à sério, equilibrando humor, ação e exposição em um pacote cuidadosamente calibrado.

Capitã Marvel: o plot

Capitã Marvel (Brie Larson) é inicialmente apresentada como Vers, uma agente de esquadrão espacial Starforce da raça alienígena Kree. Vers não é uma personagem dos quadrinhos originais da Capitã Marvel, mas os leitores da Marvel podem reconhecer seus colegas membros do Starforce: Korath, o Perseguidor (Djimon Hounsou), Minn-Erva (Gemma Chans), Bron- Char (Rune Temte), Att-Lass (Algenis Pérez Soto) e seu líder Yon-Rogg (Jude Law). Vers tem poderosas habilidades de Kree: super força, resistência física e a capacidade de disparar rajadas de energia das pontas de seus dedos. Mas há um porém: ela não consegue se lembrar de como conseguiu esses poderes, ou como era sua vida antes que os Kree a encontrassem e a trouxessem para a cidade-natal Kree, Hala. Quando Starforce é designada para recuperar um espião, Vers acaba nas mãos dos Skrulls, uma raça de alienígenas em guerra com os Kree. O líder do Skrull, Talos (Ben Mendelsohn) tem um objetivo, e ele está disposto a surfar pelas memórias de Vers para consegui-lo: o Lightspeed Engine, que poderia mudar a maré da guerra a favor do Skrulls. Mas a viagem de Talos através da memória de Vers desbloqueia visões de seu passado como Carol Danvers, que a leva ao planeta C-53 (Terra) na década de 1990. Lá, ela recebe a atenção de Nick Fury (Samuel L. Jackson, desta vez com os dois olhos intactos) e Phil Coulson (Clark Gregg, com mais cabelo do que ele tem em Vingadores ou Agentes da S.H.I.E.L.D.). E é aí que mora a preciosidade do longa. A dinâmica de gato e rato de Danvers e Fury se torna um destaque do filme, enquanto Vers sai de uma civilização altamente avançada para um mundo de telefones públicos e shoppings enquanto usa um uniforme da Starforce e fala sobre alienígenas que mudam de forma. A nostalgia dos anos 90 é forte em Capitã Marvel. Os diretores Ryan Fleck e Anna Boden tecem os elementos futuristas da história de Carol no período retrô, desde roupas a carros e música. Fleck disse que a música foi a primeira coisa em que se concentraram durante a pré-produção, criando uma playlist que incluía canções como I’m a girl, de No Doubt, Come As You Are, do Nirvana, algo parecido com os filmes dos Guardiões da Galáxia e suas mixtapes clássicas. Aqui, Capitã Marvel usa a trilha sonora como uma espécie de piada, levando a nostalgia do público enquanto dita o humor de adicionar músicas familiares a situações estranhas.

Os pontos fortes

A maior força de Capitã Marvel está em sua relação central entre Carol e a piloto da Força Aérea Maria Rambeau (Lashana Lynch). Como Steve Rogers e Bucky Barnes, Carol e Maria estão ligadas por um passado em comum e uma amizade profunda, mesmo que Carol não se lembre disso. Capitã Marvel é um personagem raro no Universo Marvel, que não tem nenhum interesse amoroso simbólico, mesmo que, para Larson, a amizade entre de Carol e Maria é como “o amor do filme”. “Este é o amor perdido, este é o amor encontrado novamente, esta é a razão para continuar lutando e ir até os confins da terra”, disse. Mas trazer esse nível de amor, confusão e comprometimento exige muito da atriz, que essencialmente interpreta três papéis neste filme: Vers, Carol e Capitã Marvel. Cada uma tem sua própria jornada e desafios. A ferocidade de Larson nas cenas de ação e sua dor silenciosa em momentos mais profundos são, para todos os efeitos, orgânicos. A história parece confusa às vezes, mas seu desempenho forte e confiável fornece a conexão necessária para se gerar empatia à sua jornada.

Ação!

Se a emoção tem sua dose certa de equilibrio, a ação no filme pode parecer menos convincente, no entanto. Brie Larson supostamente treinou por quatro horas e meia por dia ao longo de 10 semanas para se preparar para suas cenas de luta, mas, além de uma luta entre Larson e Law, a maioria dos combates são editados de forma enfadonha e focada em grandes saltos, comprometendo nossa própria noção de espacialidade. Tudo é tão frenético que fica difícil ver se os atores são fisicamente capazes de convencer, e raramente parece que eles estão executando os movimentos. Uma oportunidade perdida.  Nada disso impede o vilão de roubar o filme. Mesmo em látex e traje Skrull, Mendelsohn como Talos é perigoso e encantador, até sexy. Ele parece estar se divertindo à beça no papel, e é convincente, não importa quanto dano e destruição ele cause. As dificuldades da Marvel em criar vilões memoráveis são gritantes, e, em tentativas e erros, os filmes tenderam a melhorar gradualmente ao longo do tempo, com adversários como Erik Killmonger e Thanos trazendo personalidade e princípio para seus papéis, ao invés de apenas um mal despido e despropositado. Talos se junta a esta dupla como um vilão com um propósito significativo – embora ele ainda seja ofuscado por Goose, um gato criado conscientemente para ser um favorito imediato da audiência.

História e o desafio da origem

O único obstáculo que Capitã Marvel não esclarece inteiramente vem da execução de sua história. Sua narrativa principal, em torno de Vers/Carol/ Capitã e sua viagem de autodescoberta, caem bem juntos, seguindo os padrões habituais de drama e humor da Marvel e ação de subida e descida. Mas a história fica mais complicada quando tudo a isso ainda tem que reunir elementos do passado e do futuro da MCU. Os Kree, já vistos como vilões em Guardiões da Galáxia e Agents of S.H.I.E.L.D., são retratados como heróis aqui. Em Guardiões, Ronan, o Acusador (Lee Pace), era obcecado por destruição, e os telespectadores podem ter dificuldade em entender suas motivações em Capitã Marvel. Os seguidores da Marvel podem apreciar a maneira como algumas peças de quebra-cabeça se encaixam, mas espectadores mais casuais podem achar que as informações e os muitos elementos aparentemente não relacionados ou injustificados do filme são confusos. Mas os cineastas não fogem da complexidade de sua história. Carregado com a criação da Capitã como um elemento necessário para servir de contraponto a Thanos em Vingadores: Ultimato, eles dão a ela uma rica história de origem e uma motivação crível. Às vezes, o filme pode se sentir sobrecarregado com elementos da história, mas cada um desses elementos individuais parece importante e significativo, desde a cena de vôo prolongado que combina humor e perigo com a piada de Fury contando a sua história para diversão de Carol. Algumas delas podem se arrastar em isolamento, mas em grande parte parecem necessárias para a história maior. Em última análise, Capitã Marvel faz seu trabalho e parece muito bom ao fazê-lo. Como um filme de representação, não é tão revolucionário quanto o Pantera Negra, e não é tão aventureiro ou bem-humorado quanto Thor: Ragnarok. Mas ele fornece a narrativa do poder feminino que o MCU precisava em um nível para rivalizar com a Mulher Maravilha, e não apenas fazendo do Capitã Marvel uma heroína poderosa. Isso também faz dela uma pessoa admirável, com bons amigos e objetivos pelos quais vale a pena lutar. E estabelece firmemente Carol Danvers como um dos super-heróis mais poderosos da Marvel, que é exatamente o que os Vingadores vão precisar em Ultimato. fonte: The Verge

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