E se você acha que estamos falando apenas de pequenas startups desconhecidas, o assunto é voltado para companhias como Uber, Tesla e Snapchat. Entenda como os investidores estão pressionando os grandes CEOs a deixar de colocar dinheiro em uma empresa que já deveria ter dado lucro há bastante tempo.
Movimento começou na década passada
De tempos em tempos, é bem comum ver uma ideia que unificada à tecnologia, parece ser uma ótima solução para um problema comum de nosso dia a dia. E se há um potencial de lucro, é claro que muitas pessoas também gostariam de colocar dinheiro nisso para colher os frutos junto com os idealizadores. Mas para entender como isso pode ser perigoso, vamos voltar alguns anos até a era da “bolha ponto com“, quando investidores foram atraídos a comprar ações de startups devido à alta nas ações, que foi decorrente de pura especulação. Basicamente, começou a ser divulgado que investidores deveriam colocar seu dinheiro na compra de ações que tivessem “.com” no nome, devido aos avanços que aconteciam entre 1994 e 2000, mas sem dados métricas financeiras que sustentassem o provável crescimento das empresas. O problema foi que: depois da bolha da internet estourar e boa parte das startups não atingirem o potencial de rentabilidade esperado, investidores perderam dinheiro e estas empresas de tecnologia — que estavam em seus primeiros estágios de trabalho — precisaram fechar as portas. A NASDAQ, bolsa americana voltada apenas para empresas de tecnologia e inovação, foi o palco deste verdadeiro show dos horrores para os investidores. Ironicamente, o mesmo está acontecendo novamente, depois de quase 20 anos. Para entender o fenômeno, basta fazer uma pequena troca de termos: até o ano 2000, as pessoas investiam em empresas que tinham “.com” no nome, certo? Hoje em dia, o foco dos investimentos está em outras buzzwords, como NFT, criptomoedas, inteligência artificial e até mesmo blockchain.
Dinheiro importa (e muito)
Quando uma nova ideia de tecnologia é colocada no mercado e apresentada para investidores, é muito comum os idealizadores citarem que o lucro não é tão importante, devido ao resultado do trabalho ser mais importante que o próprio lucro. Inclusive, perguntas como estas são praticamente proibidas no Vale do Silício e demais celeiros de big tech americanas. O problema é que esta é uma cultura mais do que inadequada, pois coloca investidores em uma rede de incertezas. É como se eu lhe dissesse que vale a pena investir em uma marca de celulares que está começando a fabricar modelos agora, mas não mostrasse dados sobre o mercado e possível custo de produção e estimativa de lucro. Os investidores apenas são coagidos a colocarem seu dinheiro em uma empresa que pode (ou não) dar um retorno. Para analisar a ideia, vamos falar sobre três startups: Uber, Tesla e Snapchat.
Lucro chega apenas depois de muito tempo
Você sabia por exemplo que a Uber tem mais gastos do que o faturamento da plataforma? Entre 2018 e o primeiro trimestre de 2022, houve o faturamento de US$ 53 bilhões da Uber e ao mesmo tempo, a empresa gastou US$ 73 bilhões, incluindo gastos com construção de prédios focados em entregar vantagens para seus funcionários. Ou seja: por mais que a ideia tivesse um grande potencial de investimento em 2009, ainda não gera lucro para seus investidores, quase 14 anos desde o início de seu funcionamento. Fundada em 2003, a Tesla começou a dar lucro para seus investidores apenas em 2020, fator bastante impulsionado pela alta demanda de carros elétricos durante a pandemia de COVID-19. A notícia soa como surreal, mas em 2019, a empresa de Elon Musk teve o prejuízo de US$ 862 milhões. Outro exemplo é o Snapchat: apesar de muitas pessoas acharem que a rede social foi ultrapassada pelo Instagram, a plataforma ainda é bastante utilizada nos EUA e toda a Europa. Isso não significa que há resultados positivos em relação aos lucros: apesar da plataforma ter sido lançada em 2011, a Snap (que controla a rede social) revelou que foi registrado um crescimento de 42% de 2021 para 2022 e o lucro líquido foi de US$ 22,6 milhões. Todos estes dados mostram que muitos investidores ganharam dinheiro apenas depois de muito tempo das empresas começarem a funcionar. Ao perceberem tal fenômeno, estas pessoas começaram a tirar seu dinheiro de um projeto que leva tanto tempo para dar retorno financeiro.
Juros estão afastando investidores
Não há como negar que os juros são um dos grandes inimigos dos investidores e também dos fundadores de startups. Muitas ideias são tiradas do papel, mas poucas delas vão tão longe a ponto de ter investidores que possam esperar por 5, 10 ou até mesmo 20 anos para que o lucro chegue. Quanto maiores forem os juros, os investimentos em títulos do governo e demais opções atreladas à taxa básica de juros tornam-se mais atrativos, visto a garantia de rentabilidade frente ao mercado de ações. Além do risco de não dar lucro para seus investidores, as ações de startups podem se desvalorizar e, de um dia para o outro, o dinheiro investido não ter o mesmo valor de mercado. Por mais que este mercado pareça bastante lucrativo e os grandes gurus de tecnologia façam todo o trabalho de convencimento de forma bastante assertiva, é importante lembrar que um dia nunca será como o outro. Ações pontuais, como as declarações de Elon Musk sobre suas companhias, aumentam a especulação e podem alimentar o aumento ou a queda das ações de uma empresa.
Startups atraem investidores com métricas não-financeiras
Outra ação que se tornou bastante comum entre as empresas de tecnologia é que as mesmas passaram a criar métricas próprias de crescimento, para seguirem chamando atenção de investidores. É comum que a rentabilidade, uma das métricas principais para avaliar uma empresa, seja deixada de lado na hora de atrair investidores. E aqui mora o problema: os investidores colocam dinheiro em um projeto que parecia se tornar lucrativo em um período de tempo não tão longo, mas a verdade é que nem mesmo os criadores das big tech americanas focam no lucro, e sim no crescimento (não em termos financeiros) da empresa. É mais fácil vermos a divulgação de dados de participação de uma empresa em muitos países, número de funcionários, engajamento em redes sociais e até mesmo quantidade de clientes atendidos em um ano, mas não espere que haja destaque na divulgação de lucros das empresas. Muitas big techs americanas oferecem stock options, ou seja, ações da companhia como bonificação para seus funcionários, como promessa de que esses ativos vão se valorizar ao longo do tempo. Esta prática é vantajosa para a empresa, pois não ocorre o desembolso financeiro para o pagamento dos bônus dos funcionários. O problema é que, com a queda recente nos valores das ações das empresas, os trabalhadores veem a perda do valor de seu patrimônio.
O que o futuro traz para as Big Techs americanas?
Com a pressão de investidores em gerar lucro e, principalmente, a divulgação de dados de faturamento, espera-se que estas empresas precisem prestar contas com as pessoas e fundos de investimento que colocaram dinheiro na ideia que prometia rentabilidade. Estas empresas ainda não estão em sua ruína financeira, mas caso sigam sem um plano de faturamento que mudará os resultados de forma rápida e funcional, poderemos ver o mesmo caso da bolha de internet em 2000. A Tesla, por mais que tenha tido seu primeiro lucro depois de 20 anos de serviço, começou a ser pressionada por grandes montadoras e empresas chinesas que estão entrando neste mercado de forma agressiva. A resposta dos investidores foi clara: muitas pessoas passaram a vender as ações da empresa de Elon Musk como uma forma de evitar o prejuízo em um futuro que pode estar próximo. 20 anos depois do grande problema de bolha da internet, os grandes gênios de tecnologia estão sendo cobrados para mostrarem lucro para seus investidores caso queiram continuar recebendo dinheiro para suas ideias. O que vai acontecer daqui para frente é incerto, mas não ache estranho se ações de crescimento forem suspensas para que novidades que realmente gerem lucro em pouco tempo sejam colocadas em prática. Você acha que estas grandes empresas de tecnologia irão deixar de funcionar ou agir para darem resultados lucrativos a seus investidores? Diga pra gente nos comentários! Veja também Um estudo realizado pela Gartner aponta que 20% das grandes empresas usarão moedas digitais até 2024 Fontes: Business Insider (1, 2 e 3) l Market Insider