O cineasta alemão que assina este documentário tem uma carreira especializada na linguagem documental. Apesar de Werner Herzog ter se notabilizado com obras de ficção como Aguirre, a Cólera dos Deuses, O Enigma de Kaspar Hauser, Stroszek e Fitzcarraldo, desde 1970, ele vem trazendo ao mundo suas visões peculiares sobre os mais diversos assuntos que comentam a sobre o comportamento da humanidade, de uma forma ou de outra, desde corajosos médicos que levam tratamento para regiões inóspitas na África, passando pela trágica biografia de um homem que passou sua vida em meio a ursos selvagens até um olhar sobre os primórdios do homem.
“Eis os Delírios do Mundo Conectado” não foge à regra. A visão lírica que ele coloca na tela, mas preocupada sobre o quanto nos tornamos dependentes da tecnologia, mais especificamente da internet. No começo do documentário, o apresentador, Leonard Kleinrock, nos introduz aos acontecimentos do ano de 1969, quando a internet nasceu. O título já dá uma força para o espectador entender que, o que vemos no documentário são quase que devaneios sobre o passado, presente e futuro da tecnologia, por meio de uma comparação utilizando uma visão que não condena, mas também não valoriza como correto os vários acontecimentos desde o o chamado “fatídico” dia em que a primeira mensagem foi enviada de um computador a outro, estando eles separados por uma distância de 400 milhas. Você pode se perguntar se o que foi enviado foi uma mensagem confidencial, ou então, um arquivo contendo informações importantes. Não, a primeira mensagem foi “Lo”. Mas, é preciso avisar que a intenção era enviar o código LOG, mas, com ainda era uma fase inicial, a “rede” não aguentou a ‘grande’ quantidade de dados e ‘caiu’. E a mensagem virou profética. Pois, na língua inglesa, a palavra “LO” é costumeiramente usada na expressão lo and behold, que significa “e eis” (normalmente dito quando alguém conta algo de surpresa que acabou de acontecer) e que deu nome ao documentário. Herzog, em muitos momentos aparece como narrador, e também como entrevistador oculto. O longa é dividido em dez capítulos curtos, cada um sobre um assunto diferente dentro da proposta de discutir a internet e seus efeitos. Com isso, ele vai levando o espectador para indicar aquilo que ele entende que a internet e a facilidade de acesso à informação criaram no inconsciente coletivo. Ao quebrar sua história em 10 segmentos de poucos minutos, Herzog acaba não se aprofundando nos temas, e, em muitos momentos, deixa de desenvolver e tratar com a devida profundidade.
Sem profundidade
Ele perde a oportunidade, em um documentário de uma hora e meia, de debater questões mais atuais e que são polêmicas, como a cultura hacker. Além de apresentar mais informações de como seria o mundo caso ficássemos repentinamente sem internet, o desenvolvimento da inteligência artificial dentre outras. Ao não apresenta de forma clara as soluções ou sua própria impressão sobre as matérias que apresenta, o diretor espera que o espectador tire suas próprias conclusões. O documentário se mostra no final ser bem menos do que teve a capacidade de ser, com um começo bem interessante e histórico. Eis os Delírios do Mundo Conectado é um entretenimento bem-acabado e que pode levar a debates interessante. Talvez peque pela duração, muito cumprida.
Disponível na Netflix Eis os Delírios do Mundo Conectado (Lo and Behold, Reveries of the Connected World, EUA – 2016) Direção: Werner Herzog Roteiro: Werner Herzog Com: Lawrence Krauss, Kevin Mitnick, Elon Musk, Sebastian Thrun, Lucianne Walkowicz, Robert Kahn, Ted Nelson, Hilarie Cash, Christina Catsouras, Sam Curry, Leonard Kleinrock, Tom Mitchell Duração: 98 min.