Com os novos aviões, espera-se que o transporte de passageiros fique duas vezes mais rápido, se comparado a velocidade dos aviões comerciais mais rápidos da atualidade, e que traga de volta a era encerrada com o fim do Concorde, primeiro avião supersônico do mundo para fins comerciais. A ideia é que as viagens também se tornem mais econômicas e emitam menos gases poluentes que o precursor.
A futura máquina supersônica da American Airlines
Atualmente, o Overture está sendo projetado para transportar de 65 a 80 passageiros a Mach 1,7 (1,7 vez a velocidade do som no ar) – ou duas vezes a velocidade da aeronave comercial mais rápida de hoje – com um alcance de 4.250 milhas náuticas (7.870 km). O modelo da Boom Supersonic também está sendo projetado para voar mais de 600 rotas ao redor do mundo em menos da metade do tempo necessitado nos dias atuais. Voar de Miami a Londres em pouco menos de cinco horas e Los Angeles a Honolulu em três horas estão entre as possibilidades. Segundo a companhia aérea, o Overture vai introduzir uma nova e importante vantagem de velocidade para a frota da companhia. Conforme os termos do contrato, a Boom deve atender aos requisitos de operação, desempenho e segurança padrão do setor, bem como outras condições usuais da American Airlines antes da entrega de quaisquer ofertas definitivas sobre a aeronave a ser produzida. Se os jatos Overture da Boom passarem pela inspeção, o plano é que sejam lançados em 2025, voem em 2026 e transportem passageiros até 2029. Além da American, a empresa tem acordo para entregar 15 jatos para a United Airlines, com opção de mais 35 aeronaves dependendo dos testes de segurança. A startup também tem contratos com a Rolls-Royce e a Força Aérea dos EUA. No mês de julho, a montadora revelou o seu design atualizado para sua aeronave Overture, que inclui um motor extra, uma fuselagem contornada e asas de gaivota. Além da velocidade de Mach 1,7, o Overture em escala real terá 62 metros de comprimento e atingirá uma altitude de cruzeiro de 60.000 pés. Os jatos ainda prometem zerar a emissão líquida de carbono e funcionar com combustível de aviação 100% sustentável. Grupos ambientalistas, no entanto, estão preocupados com o fato de que velocidades mais rápidas equivalem a mais poluição. A indústria global de aviação produz cerca de 2% de todas as emissões de CO2 induzidas pelo homem, mas os jatos supersônicos são conhecidos por serem muito mais poluentes. Portanto, a startup terá um desafio e tanto na missão de fornecer aeronaves rápidas e sustentáveis.
Uma nova tentativa
Torcer para que o Overture dê certo é torcer pelo futuro da aviação mundial. Há cerca de duas décadas, os jatos supersônicos foram abandonados, após o fracasso do Concorde, avião supersônico que mudou, para sempre, a aviação como a conhecemos hoje. Produzido pelo consórcio formado pela britânica British Aircraft Corporation (BAC) e a francesa Aérospatiale, o Concorde tornou-se símbolo de uma época quando qualquer objetivo parecia capaz de ser atingido pelo homem. Se era possível caminhar na Lua, por que não seria voar duas vezes mais rápido que a velocidade do som e cruzar o Oceano Atlântico em menos de três horas? Aquele avião supersônico conseguia voar a duas vezes a velocidade do som, algo em torno dos 2.179 km/h. Com isso, a rota inicial de Paris ao Rio de Janeiro, mesmo passando por Dakar, durava apenas seis horas, metade do tempo que um jato comercial comum levava. A sua fuselagem e motorização ultrapotente também eram especiais, fazendo com que o supersônico anglo-francês fosse capaz de voar a uma altitude de 18.300 metros, ou 60 mil pés, o suficiente para que pudéssemos ver a curvatura da Terra com todo o seu esplendor. Por trás dessa história magnífica, tiveram anos e anos de muitos testes e muita tecnologia estava envolvida. O desempenho descomunal do Concorde também acontecia por conta de sua aerodinâmica diferenciada, já que ele apresentava um design mais pontiagudo e asas em formato delta para facilitar na hora do pouso, já que ele não possuía spoilers (peças móveis que ajudam a reduzir a sustentação das asas para firmar a aeronave no solo) como os aviões convencionais. Mas a manutenção de tudo isso custava caro, mas muito caro mesmo! Além da manutenção geral da aeronave, as viagens rápidas com luxo a bordo possuíam um alto custo para as companhias aéreas. Tanto a British Airways quanto a Air France tiveram enorme prejuízo na operação de seus Concordes. Com isso, as operações desses aviões supersônicos estavam com o prazo de validade cada vez mais curtas. O alto custo das passagens aéreas também tornavam-se um problema, já que nem todos tinham condições de assumir tal preço. Para se ter uma noção, uma passagem padrão de Londres a Nova Iorque custava US$ 10 mil, cinco vezes mais do que um bilhete em voo convencional. Mesmo com esse alto custo, companhias como a British Airways e Air France ainda insistiam na utilização das aeronaves. Mas no início do século, um acidente fatal contribuiu para o início do fim de um dos aviões mais icônicos do mundo. Em 25 de julho de 2000, um Concorde caiu em cima de um hotel próximo ao aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, matando 109 pessoas a bordo e outras quatro que estavam em solo. É bem verdade que a causa do acidente não tinha ligação direta com o avião, já que ficou constatado que o motivo da queda foi uma peça de titânio presente na pista, que se soltou de um DC-10 da Continental que havia decolado antes do Concorde e acabou furando um dos pneus do supersônico durante a decolagem. Os destroços do pneu danificaram o tanque de combustíveis, que pegou fogo rapidamente. Cerca de um ano depois, correções foram feitas, com o avião ganhando um reforço em seu tanque de combustível com o acréscimo de placas de kevlar. No entanto, as operações com a aeronave não duraram muito tempo, graças ao medo de voar das pessoas causado pelo atentado de 11 de setembro e também por conta do acidente de um ano antes. Dessa forma, o Concorde teve o seu último voo pela British Airways no dia 24 de outubro de 2003. Seu último voo (BA002) saiu do aeroporto John F. Kennedy em Nova Iorque, pousando no aeroporto de Heathrow em Londres sob o som do aplauso de uma multidão que se reuniu para dar o adeus ao Concorde. Veja também: No ano passado, a brasileira Gol anunciou a compra de aeronaves elétricas para realizar voos comerciais no Brasil. A previsão é que as atividades comecem em 2025. Fontes: The Verge, CNN, US News.