Segundo o estudo, divulgado nesta sexta-feira (28), o 5G pode adicionar até um ponto percentual ao PIB brasileiro e se tornar um dos motores da recuperação econômica do país no pós-pandemia. O estudo aponta também que a tecnologia vai contribuir para a economia global, com um impacto médio previsto em 5% até 2035. O paper “Why 5G in Latin America?” reúne informações sobre o atual cenário de conectividade na região e traz previsões sobre a implementação da tecnologia 5G na América Latina.
Impactos gerais do 5G no Brasil
O estudo elaborado em conjunto pela Nokia e pela Omdia aponta que a implantação de redes 5G vai representar uma transformação digital e impulsionar a produtividade na América Latina, principalmente no Brasil. A expectativa, de acordo com o estudo, é que o 5G tenha um impacto de até US$1,2 trilhão no PIB do Brasil entre 2021 e 2035. O paper aponta que os setores mais impactados (positivamente) serão:
Tecnologia, Informação e Comunicação (US$241 bilhões);Governo (US$189 bilhões);Manufatura (US$181 bilhões);Serviços (US$152 bilhões);Varejo (US$88 bilhões);Agricultura (US$77 bilhões);Mineração (US$48,6 bilhões).
A área governamental – isso inclui educação pública e saúde – deve contar com melhoria da conectividade por meio do enhanced Mobile Broadband (eMBB) e Fixed Wireless Access (FWA). Isso porque, segundo o estudo da Nokia, o Brasil ainda tem um grande desafio em conectar serviços públicos à internet, especialmente em áreas rurais e remotas. Agora do ponto de vista da saúde, o estudo prevê que o 5G vai melhorar os serviços de telemedicina, suportando diagnóstico remoto, tratamento e monitoramento de pacientes. Isso deve aumentar a cobertura dos serviços de saúde. Ainda considerando as políticas governamentais, o estudo coloca que o 5G pode ser um facilitador chave para as soluções de Smart Cities (as “Cidades Inteligentes”). Isso porque com a tecnologia 5G, a conectividade nas cidades tende a ser maior, o que gera a interconexão entre os dispositivos móveis e a infraestrutura gerada para administrar esses novos conceitos. De acordo com o estudo, a combinação de big data e 5G na infraestrutura urbana pode apoiar os administradores da cidades em áreas como:
Trânsito e transporte: a conexão de infraestrutura urbana de semáforos, estacionamentos e ônibus traria benefícios como redução do tempo de inatividade e localização e monitoramento de ônibus;Smart Lightning: as iniciativas na área são cada vez maiores e o setor se beneficia com uma taxa exclusiva dos cidadãos para iluminação pública, tornando-se um exemplo de serviço com fonte de financiamento definida;Monitoramento de vídeo: o Brasil tem um dos maiores índices de criminalidade do mundo. Os sistemas de reconhecimento facial baseados em vídeo têm sido avaliados cada vez mais pelas cidades, então, o 5G é ideal para resolver a questão da limitação de disponibilidade de conectividade de alta capacidade.
Considerando as várias redes que os governos precisarão gerenciar no futuro, o estudo aponta que uma única camada de conectividade para todos os casos de uso é mais simples de gerenciar do que múltiplas tecnologias. Nesse contexto, o 5G é o candidato mais óbvio para ser esta “camada única”, de acordo com o estudo da Nokia com a Omdia. Isso porque a tecnologia possui capacidade de fornecer desempenho semelhante ao da fibra óptica em situações de banda larga fixa e desempenho superior em dispositivos móveis.
Impactos econômicos no Brasil
Agora falando especificamente sobre a economia do país, vamos começar pelo setor de manufatura. Segundo o paper, este deve ser uma das verticais que se beneficiará com o 5G, por meio da implementação de veículos guiados automatizados (AGVs, na sigla em inglês). Esses veículos poderão ser usados em fábricas e armazéns inteligentes, permitindo o planejamento de caminhos flexíveis e a substituição de correias transportadoras, segundo o estudo. O 5G também vai permitir a localização de peças e equipamentos com precisão, o que deve otimizar os processos. Em relação à mineração, o paper aponta que há a necessidade de gerenciamento de operações de alto risco. Isso torna este setor um forte candidato a estar entre os primeiros a adotar o 5G habilitado para serviços, de acordo com o estudo. Algumas iniciativas usando redes privadas de 4G até foram implementadas em minas e represas, que são locais que geralmente não possuem cobertura de sinal. Mas o 5G, de acordo com o paper, vai trazer uma QoS (Quality of Service, ou “Qualidade de serviço” em tradução livre) mais alta e vai atender os requisitos mais rígidos de latência e velocidade. Ainda de acordo com o paper da Nokia e da Omdia, o setor varejista é uma das atividades econômicas mais importantes do Brasil e deve sentir rapidamente o impacto do 5G. O paper aponta que as velocidades mais rápidas, ativadas pelo eMBB, vai garantir a melhoria na experiência do cliente com serviços de realidade aumentada (AR) e realidade virtual (VR), no carregamento de páginas e em operações financeiras (pagamentos e transferências). O suporte ao cliente deve melhorar também, segundo o paper, incluindo até chamadas de vídeo. Graças ao 5G FWA, os operadores poderão oferecer serviços SD-WAN (abordagem definida por software de gerenciamento da WAN) sem precisar investir altos valores em conexões de fibra até as instalações do seus clientes, de acordo com o estudo. Por fim, vamos falar sobre a agricultura, que é altamente produtiva e orientada para a exportação. O estudo da Nokia aponta que o 5G tem o potencial de ser a única camada de conectividade necessária para conectar casos de usos diferentes, como sistemas de irrigação e veículos autônomos, por exemplo. A maioria das fazendas no Brasil, segundo o paper, não possui cobertura de celular. Por isso, o estudo defende que os ganhos potenciais ao conectar a força de trabalho e a infraestrutura podem ter um impacto significativo na produtividade do setor. Mas fazer o 5G chegar a este setor de forma ampla será um desafio.
Impactos do 5G na sociedade
O estudo indica que os consumidores estão ficando mais impacientes com a banda larga móvel 4G, em termos de conexão e latência. Por isso, a expectativa é que o 5G tenha uma rápida adoção no mercado de banda larga móvel. De acordo com o paper, estima-se que 25% das linhas de banda larga móvel vão operar com 5G até 2023, em toda a América Latina. Já não é novidade que no contexto de pandemia do novo coronavírus, as relações sociais, principalmente corporativas, passaram por mudanças. Nesse “novo normal”, o trabalho remoto passou de opção para necessidade – e por tempo indeterminado. Neste cenário, o paper coloca que a consequência da implantação do 5G seria um melhor caso comercial de FWA e um tráfego significativamente maior na área residencial. Ambos os benefícios devem incentivar as operadoras de telecomunicações a implementarem o 5G o mais rápido possível, segundo o estudo da Nokia e da Omdia.
5G e o contexto financeiro da América Latina
Em relação a economia global, o paper indica que o 5G deve contribuir com um impacto médio de 5% até 2035. Ainda segundo o estudo, as vendas habilitadas para 5G em todos os setores terão um impacto diferente, começando com um aumento de 2,2% até mais de 10% para as receitas de tecnologias da informação e comunicação (TIC). A Nokia Bell Labs identificou que a conectividade inteligente, habilitada por 5G, vai ser um catalisador para o crescimento socioeconômico na chamada 4ª Revolução Industrial. Combinando esses efeitos, a Omdia projetou um modelo para estimar o impacto econômico e social do 5G, até 2035, na América Latina. A empresa também abordou o potencial de cada indústria e setor nessa projeção. O impacto social é difícil de calcular em números, mas, segundo o modelo da Omdia, o valor econômico potencial do 5G na América Latina é estimado em até US$3,3 trilhões até 2035, tendo um aumento de até aproximadamente US$8,8 bilhões na produtividade com destaque para os seguintes setores:
Tecnologia, Informação e Comunicação (US$572 bilhões);Manufatura (US$534 bilhões);Serviços (US$468 bilhões);Governo (US$323 bilhões);Varejo (US$262 bilhões);Agricultura (US$212 bilhões).
Espectro 5G e desafios de conectividade
De acordo com o estudo, os países latino-americanos ainda não terminaram de alocar o espectro 4G disponível. Isso significa que ações urgentes são necessárias. Já o espectro 5G inclui uma mistura de bandas baixas (600MHz e 700MHz), bandas médias (C, 3300-3800MHz) e bandas altas (acima de 6GHz), incluindo “mmWave” (a faixa de 26MHz é a maior prioridade). Atualmente, segundo o paper, há os primeiros anúncios para o leilão do espectro 5G. Brasil e Chile são os país latino-americanos que estão liderando, em termos de espectro total a ser alocado. Só que o estudo defende que a política de infraestrutura é o segundo pilar principal dos facilitadores regulatórios de 5G, tendo em vista que a conectividade de fibra se torna obrigatória. Isso ocorre porque os links de cobre e micro-ondas têm limitações de desempenho. Ainda falando sobre os desafios de conectividade, o paper da Nokia e da Omdia ressalta que a cobertura do 4G na América Latina precisa ser analisada, já que para o 5G é necessário uma rede totalmente IP (com identificação de interface e endereçamento de localização). De acordo com as previsões da Omdia, o 4G/LTE vai ser a principal tecnologia, com 58% do total de conexões, até 2023. Atualmente, existem soluções de backhaul – porção de uma rede hierárquica de telecomunicações responsável por fazer a ligação entre o núcleo da rede, ou backbone, e as sub-redes periféricas – de micro-ondas para 5G, mas as conexões DSL (que utiliza da linha telefônica para fornecer o serviço de internet) precisariam ser substituídas. Além disso, existe o problema dos recursos limitados dos operadores para realizar essa migração, conforme aponta o paper. Outros desafios presentes no contexto da América Latina em relação à conectividade, segundo o estudo, são o aumento da velocidade da banda larga e a melhoria na qualidade e cobertura da rede móvel. Apesar de haver uma alta penetração da telefonia celular na América Latina, metade dos latino-americanos não têm acesso à banda larga da internet. Em contrapartida, o estudo aponta um aumento na adoção de banda larga e dos investimentos nessa tecnologia, que aumentaram US$30 bilhões anualmente na última década. Fontes: Nokia e DepositPhotos